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domingo, 30 de maio de 2021

Kanté e marcação perfeita quebram plano de Guardiola no bi europeu do Chelsea

Chelsea ergue o troféu da Liga dos Campeões (Foto: PIERRE-PHILIPPE MARCOU / POOL / AFP)
Enquanto o Chelsea veio a campo com o time que Thomas Tuchel reorganizou lá em janeiro, num 5-3-2 muito claro com Jorginho como primeiro volante e Kanté e Mount mais centralizados, Pep Guardiola mudou o Manchester City e surpreendeu na escalação com Gundogan como único volante, num 4-1-4-1 bem definido.
É uma mudança grande do 4-4-2 que deu tão certo nos dois confrontos contra o PSG, o que leva ao questionamento: qual foi o motivo de Pep mudar o time novamente num confronto decisivo?
A resposta é a própria dinâmica defensiva do Chelsea: Guardiola se concentrou em furar a linha de cinco com Mahrez e Foden, dois pontas bem abertos para "chamar" os alas e abrir espaço por dentro, onde o City não tinha ninguém na referência: De Bruyne, Sterling e Bernardo buscavam o centro, que com Zinchenko, formava uma espécie de losango onde os meias do Chelsea estavam. Havia variações, claro, mas a ideia era sempre ter quatro jogadores no setor onde só Jorginho, Kanté e Mount estavam.
Guardiola tentou criar superioridade numérica no centro do campo (Foto: Reprodução)
Criar superioridades numéricas é a base do Jogo de Posição, filosofia que o próprio Pep fez famosa no mundo e que praticamente todo treinador no mundo incorpora conceitos. Se você pensar bem, a ideia de Pep tinha lógica, tinha tudo para dar certo. Só não contava com a marcação extremamente encaixada e inteligente do Chelsea.
O Chelsea fez o simples, mas tão bem feito, tão bem executado, que o City não conseguiu criar nada a partir da lógica de Guardiola. Pegando todas as chances, a maioria delas foi em ações de contra-ataque ou de ligações diretas de Ederson, arma que já tinha sido eficiente contra o PSG.
A execução começava na ideia de pressionar a bola. Nada mais do que encurtar o tempo e o espaço do adversário que tem a posse, de modo que ele não consiga passar para frente. O Chelsea não fazia apenas isso, mas também encurtava o espaço das opções de passe mais próximas, como na imagem. Isso fazia com que o City não conseguisse encontrar o "homem livre", o jogador que sobrava no meio-campo.
Na imagem, o homem livre é Zinchenko. Se ele recebe a bola, geraria dúvida em Kanté e Azpilicueta, o terceiro zagueiro na linha de cinco. Essa confusão daria espaço para Sterling, aberto na esquerda. Tudo teórico, porque Zinchenko jamais recebia a bola dada a pressão que o Chelsea fez.
Pressão na bola do Chelsea foi perfeita e anulou a criação do City (Foto: Reprodução)
Antes e depois do gol, o Chelsea exerceu uma marcação simplesmente perfeita. A ponto de obrigar o City a colocar Gabriel Jesus, Aguero e não conseguir exatamente uma chance de perigo.
Kanté faz papel de ligação em dinâmica que resultou no gol
Candidato a melhor jogador do mundo, e com razão, N´Golo Kanté foi destaque na partida. Ele entendeu rapidamente o ponto de fraqueza na estratégia de Pep: a solidão de Gundogan na marcação, visto que De Bruyne e Bernardo Silva nem sempre voltavam para fechar a área.
O Chelsea foi a campo jogar no contra-ataque, e Kanté desempenhava o papel de explorar esse espaço. Ele se aproximava da saída de bola, com mais liberdade que Jorginho - mais fixo no centro, como típico armador. Como o restante do City estava pressionando, marcando alto, quem acompanhava Kanté nesse movimento era Gundogan.
Kanté aproxima e leva Gundogan para longe da defesa (Foto: Reprodução)
Só que Gundogan também tinha que ser o primeiro volante. E ficava sobrecarregado quando o francês se movimentava, dando espaço para conduzir a bola e acionar Haivertz, Werner e Mount, especialistas em movimentos de desmarque, que são as corridas para tirar o zagueiro do lugar.
Gundogan se perde com o movimento de Kanté e deixa a defesa desprotegida (Foto: Reprodução)
Adivinha como o gol foi feito? Num desses desmarques - com perfeição de Werner e no tempo certo para Haivertz ter espaço - e com a defesa novamente desprotegida por causa de Gundogan estar muito acima, longe de proteger os zagueiros. Olha como o Chelsea provoca um "mano a mano" triplo na defesa, expondo Stones, conhecido por ter falhas nesse tipo de duelo.
Gol do Chelsea nasceu de falha defensiva do City (Foto: Reprodução)
Basicamente, um jogo de imposição do Chelsea, do início ao fim, que coloca mais um treinador alemão como campeão europeu: Klopp, Flick e agora Tuchel: não é a nascer alemão que faz milagre, é educação, curso estruturado, federação que joga a favor do futebol e clubes organizados. Jogo que coloca o Chelsea novamente no Mundial Interclubes. Impossível dizer que não foi merecido.

Por Leonardo Miranda
GE

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