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Bortoleto conversa com Binotto e Wheatley no GP da Espanha (Foto: Andy Hone/LAT Image) |
Quando foi anunciado pela Sauber no fim do ano passado, o novato brasileiro Gabriel Bortoleto pediu paciência para a torcida brasileira e avisou: “O projeto vai levar tempo”. A fala cautelosa era condizente com o momento do time, último colocado isolado no campeonato de construtores e sem perspectiva de melhora imediata.
No entanto, o clima de apreensão com a Sauber passou a ser de otimismo em menos de um ano: afinal, a escuderia deixou de ser a pior do grid e passou a brigar com consistência no meio do pelotão, ocupando o sétimo lugar neste momento, com 51 pontos – e até conseguindo o primeiro pódio em 13 anos, com Nico Hulkenberg no GP da Inglaterra.
Mas o que explica esta melhora? O ge mostra abaixo, passando pelos seguintes pontos:
O fundo do poço em 2024
A chegada da Audi
Mudança de mentalidade
A evolução do carro
O que esperar a partir de agora
O fundo do poço em 2024
A Sauber nunca foi uma equipe de topo, mas já teve momentos de mais brilho em relação à 2024. Sob o nome de Alfa Romeo entre 2019 e 2023, o time teve uma boa temporada em 2022, quando acabou em sexto lugar no campeonato de construtores. No entanto, sofreu um baque com a ida do chefe de equipe Frédéric Vasseur para a Ferrari.
A Alfa Romeo acabou 2023 em nono lugar, com só 16 pontos. E 2024 foi ainda pior: novamente como Sauber, o time se salvou de acabar o ano zerado graças aos quatro pontos de Guanyu Zhou no GP do Catar, o penúltimo da temporada. Valtteri Bottas, experiente piloto que estava na equipe no ano passado, explicou como a saída de Vasseur contribuiu para a queda brusca de rendimento não só do carro, mas da equipe em geral.
- Essa temporada (2024) foi inegavelmente horrível. Em 2022, quando Vasseur e eu definimos os objetivos e como alcançaríamos eles, tínhamos um plano claro. Mas quando ele saiu, todos os objetivos e planos foram descartados. Desde então, tudo ficou realmente mais desafiador - admitiu, em entrevista ao jornal finlandês "Ilta-Sanomat".
No entanto, 2024 também foi um ano que abriu novos horizontes e marcou uma virada de chave para a Sauber.
A chegada da Audi
Em março de 2024, a Audi ampliou o que inicialmente seria um acordo para a produção de motores e comprou 100% da Sauber – a mudança de nome vai acontecer em 2026, ano em que serão introduzidos os novos regulamentos técnicos e de motores na Fórmula 1.
Na sequência, a marca reforçou posições de destaque da Sauber: o italiano Mattia Binotto, ex-Ferrari, foi contratado para ser CEO; em 2025, foi promovido a chefe do projeto. A Audi também contratou o ex-RBR Jonathan Wheatley para ser chefe de equipe e o alemão Christian Foyer como diretor de operações.
O time também recebeu um impulso financeiro após o fundo de investimentos do Catar pagar 350 milhões de dólares por 30% das ações da equipe, de acordo com a imprensa internacional. Ainda faltava atacar os problemas mais visíveis, é verdade: o carro e os pilotos.
Mudança de mentalidade
Para 2025, a Sauber decidiu recalcular a rota e trocou a dupla de pilotos, optando pelo jovem Gabriel Bortoleto e pelo experiente Nico Hulkenberg para os lugares de Zhou e Valtteri Bottas. Uma mudança focada não só no desempenho técnico, mas também em renovar o ânimo da equipe com um veterano ainda em busca de um pódio e o atual campeão da Fórmula 2.
- A gente sabe que a Sauber está numa situação que não é muito fácil agora, mas vejo as mudanças que eles estão fazendo, as pessoas que estão trazendo para o time, tem bastante coisa muito positiva acontecendo aqui dentro - afirmou Bortoleto, logo após o anúncio.
Na visão de Mattia Binotto, a escuderia parecia parada no tempo, sem um plano de desenvolvimento - como Bottas também já tinha citado - e apenas sobrevivendo nos últimos dez anos:
- Quando cheguei, não havia apenas zero pontos, mas também nenhum plano ou desenvolvimento. Tudo estava focado apenas em 2026 e isso foi, de certa forma, um problema para mim. É só competindo que você pode entender o quanto está se saindo bem, e se o que está fazendo está indo na direção certa. A equipe estava quase congelada - revelou.
Binotto pontuou que a Sauber estava muito atrasada em relação às ferramentas de simulação e a metodologia de testes, importantes para avaliar o desempenho aerodinâmico dos carros em desenvolvimento. Nesta temporada, os suíços têm focado em melhorar seus processos. Algumas evoluções são visíveis ao público, como a qualidade dos pit stops; outras, ficam reservadas aos bastidores.
Evolução do carro
O C45, modelo da Sauber nesta temporada, foi concebido com uma clara ambiguidade. O carro verde costuma aparecer entre os com maior velocidade máxima e, nas classificações, até tinha um ritmo decente na comparação com as equipes do meio do grid, mas iniciou o ano deixando a desejar nas curvas e em um aspecto crucial: nas disputas na pista.
A equipe começou a F1 2025 pontuando com Nico Hulkenberg, sétimo colocado em um caótico GP da Austrália marcado pela chuva. Porém, havia um problema: o carro não conseguia produzir downforce (a força que empurra o veículo para baixo e gera mais aderência) suficiente nas curvas, ou quando se aproximava de outro veículo.
- Honestamente, eu não consigo seguir os carros à frente de muito perto. Mesmo que o ritmo esteja lá em algum momento. (...) Assim que me aproximo, parece que eu perco totalmente a aderência e... (risos) não vou a lugar algum - explicou Bortoleto, logo depois do frustrante 18º lugar no Bahrein.
O resultado de Hulkenberg na Austrália foi uma exceção à regra, e a equipe passou as sete corridas seguintes sem pontuar. No entanto, a Sauber seguiu trabalhando para corrigir os problemas e entregou atualizações importantes para o carro. A que fez a diferença, entretanto, aconteceu no GP da Espanha – o nono da temporada.
A equipe introduziu um assoalho novo e bastante modificado, além de ter mexido na asa dianteira e no desenho da tampa do motor. As mudanças deram mais downforce e tornaram o C45 mais confiável na gestão de pneus e nos combates em pista. Os resultados mudaram da água para o vinho: já na Espanha, Hulkenberg alcançou o quinto lugar, com direito a ultrapassagem sobre a Ferrari de Lewis Hamilton.
O desempenho de Bortoleto também evoluiu, e o brasileiro finalmente se adaptou às mudanças e pontuou no GP da Áustria. Nas últimas quatro provas, o calouro terminou nos pontos em três. Esse acréscimo de desempenho também foi crucial para Nico Hulkenberg conquistar o primeiro pódio na F1, após 239 provas, com o terceiro lugar no GP da Inglaterra - momento que coroou a evolução do time.
- Durante a temporada, fui aprendendo porque aquele carro nunca ia funcionar. Entendendo o estilo de carro que precisa para uma corrida longa, para durar e não desgastar pneus. Se você tem um carro bom de classificação e dá ré na corrida, nunca vai pontuar. A corrida é longa, tem muita estratégia. A direção que a gente seguiu de desenvolvimento não foi correta, mas a equipe fez um ótimo trabalho em entender isso rapidamente - explicou Bortoleto ao podcast “Na Ponta dos Dedos”, do ge.
Desconsiderando as três prmeiras colocadas no campeonato (McLaren, Ferrari e Mercedes), a Sauber acumula bons resultados desde o GP da Espanha e só fica atrás da RBR no período. A distância para a escuderia de Max Verstappen é curta, e o time suíço chegou a ter resultados superiores nesta amostra - um feito e tanto para uma equipe que era o saco de pancadas da F1 há menos de 12 meses. Veja:
Pontos de equipes fora do top-3 desde o GP da Espanha
O que esperar da Sauber?
Neste ano, a tendência é de que o time se mantenha estável no meio do grid – com a dupla de pilotos responsável por tentar conseguir resultados melhores. A escuderia não planeja grandes mudanças no carro até o fim do ano, mas essa é a realidade de todas as equipes. Afinal, o foco de todas é acertar o modelo de 2026 e largar em vantagem no novo regulamento.
- Sempre tem alguns detalhes que a gente pode trazer aqui ou ali, mas nada grande. Todas as equipes já estão muito focadas em 2026. Não sei exatamente os números, mas digamos que tem dez trabalhando no carro de 2026 e dois no desse ano. Estamos focados em 2026, assim como todas as equipes. Se falarem diferente, estão mentindo. As coisas grandes já foram colocadas no carro - disse Bortoleto.
Embora seja difícil prever com exatidão o que vai acontecer na próxima temporada, a expectativa é de que a Sauber, futura Audi, siga no processo atual de evolução. O que já se sabe é que, de acordo com Mattia Binotto, a escuderia não vai ter o melhor motor para 2026 - as especulações apontam para a Mercedes com vantagem neste sentido.
Por Breno Peçanha
ge Rio de Janeiro




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