Jeferson está no Treze desde o ano passado e foi um dos destaques no título paraibano do Galo em 2020 (Foto: Cassiano Cavalcanti / Treze) |
A derrota para o Floresta nas Eliminatórias da Copa do Nordeste 2022 encerrou uma temporada melancólica do Treze, que vai ter, no próximo ano, apenas o Campeonato Paraibano no calendário. Mas o que realmente chamou atenção após a partida foi mesmo o desabafo do goleiro Jeferson. O jogador aproveitou o último jogo do Galo na temporada para fazer expor seus sentimentos, revelando uma série de questões vividas ao longo de sua passagem pelo clube, contou que não recebe salário desde junho e disse que o momento alvinegro é caso de polícia. Segundo ele, essa é a situação mais complicada com a qual já teve que lidar no futebol.
O duelo diante do Floresta, que encerrou a temporada alvinegra, marcou também a volta da torcida ao Estádio Amigão. Os pouco mais de 300 torcedores trezeanos que compareceram às arquibancadas, por sinal, viram com os seus próprios olhos o encerramento de uma jornada bem decepcionante, que também teve, ao longo do ano, a eliminação precoce no Campeonato Paraibano, queda nas primeiras fases da Copa do Nordeste 2021 e da Copa do Brasil, além do fracasso na fase de grupos da Série D.
O Treze está virando chacota — Jeferson
Foi logo assim que terminou o jogo entre Treze e Floresta, vencido pelos cearenses por 3 a 1, que o goleiro Jeferson decidiu chamar a responsabilidade. Primeiro, em entrevista ao Nordeste FC, o goleiro contou detalhes graves sobre a situação pela qual o elenco trezeano estaria passando. Ele informou que, desde o ano passado, são meses de salários atrasados, e que a justificativa da diretoria para não solucionar as pendências são os bloqueios que o clube possui na Justiça.
— No ano passado foram seis meses e neste ano eu já vou para o quinto mês. É uma situação difícil. Se eu não tivesse as minhas economias, com 35 anos... Graças a Deus, eu tenho minhas economias guardadas, mas uma hora acaba. Você só tirando do bolso, e o torcedor não sabe da realidade. Não é que eu esteja jogando a culpa para fulano, para sicrano, mas é preciso sentar para conversar, porque o Treze está virando chacota. A camisa é muito forte, mas a situação não pode continuar. Todo mês informam que o dinheiro está bloqueado, e a gente nunca vê esse dinheiro. Cadê esse dinheiro, poxa? Quando vai receber, recebe 50% ou um vale. Isso não é justo! Acho que as pessoas não sabem a situação que nós passamos. Não estou culpando A ou B, mas tem que ter uma revolução no Treze. Tem que parar para pensar: todo dinheiro que chega é bloqueado, e o jogador não recebe. É justo isso? Eu sou um trabalhador normal brigando por justiça. Para as coisas darem certo dentro de campo, você tem que ser justo fora de campo. É só um desabafo, pois quando se faz justiça as coisas fluem naturalmente — desabafou Jeferson.
Jeferson chegou ao Treze em 2020, sendo um dos destaques da equipe que encerrou um longo jejum e conquistou o Campeonato Paraibano daquele ano. Contudo, depois daquela conquista, o clube desandou, acumulou um rebaixamento na Série C do Brasileiro e, nesta temporada, eliminações em sequência. O goleiro seguiu na equipe, sendo titular e reserva em vários desses momentos.
Para o jogador, os problemas extracampo comprometeram demais a temporada da equipe. Ele lembrou que, no início do ano, a diretoria optou por demitir o técnico Marcelinho Paraíba às vésperas de um jogo mata-mata do Campeonato Paraibano, que terminou com a queda trezeana para o São Paulo Crystal.
Cadê esse dinheiro, poxa? — Jeferson, sobre os atrasos no salários
Jeferson destacou que, após a sua declaração, dificilmente seguirá vestindo a camisa do clube; porém, ele deixou claro que a instituição precisa de uma revolução se quiser sair dessa situação.
— Desde o início do ano, a gente lembra a situação. Tínhamos Marcelo (Paraíba) fazendo um bom trabalho, aí tiraram ele e o negócio desandou, mas ninguém vê isso. Hoje eu não faço mais parte do clube, eu acho, mas espero que essa nova direção, com (João) Paiva, que me parece uma pessoa boa, coerente... vamos ancorar o Treze. O Treze é grande, a força desse clube... não pode acontecer o que está acontecendo. Não é justo. Por mais que a gente escute algumas coisas do torcedor, mas é que o torcedor está cansado, envergonhado. Então tem que mudar. Se chegou a essa situação, é porque tem que mudar — disse.
Em campo, o Treze seguiu com problemas, tanto é que o Floresta dominou os 90 minutos do jogo disputado no Estádio Amigão, em Campina Grande, na terça-feira. Fora dele, antes da partida, o clube paraibano não conseguiu nem mesmo regularizar a principal contratação para o jogo. O atacante Daniel Passira não foi regularizado em tempo hábil para estar apto para o confronto. Sendo assim, ele pode até mesmo deixar o Galo sem ter vestido a camisa em jogo oficial.
O torcedor está cansado, envergonhado. Então tem que mudar. Se chegou a essa situação, é porque tem que mudar — Jeferson, sobre o sentimento do torcedor trezeano
Depois da entrevista para a detentora dos direitos de transmissão da Copa do Nordeste, Jeferson conversou com a equipe da Rádio CBN, que também transmitiu a partida para todo o estado da Paraíba. Na conversa com o repórter Marcos Siqueira, setorista do Treze, o goleiro foi ainda além, disse que a situação é caso de polícia.
Tudo é questão de planejamento. Se planejar, tudo se resolve, mesmo vivendo fases difíceis. O jogador aqui só escuta que o dinheiro está bloqueado. Mas e a família? E o lado humano? Eu peço até respeito aos outros trabalhadores, porque todos precisam receber. Agora não é justo passar 30, 60, 90 dias, e o salário não chegar. Eu só quero mais transparência, porque eu não entendo de reunião de conselho, do que é aprovado e o que não é. Então é caso de polícia, tem que investigar. A gente vê a situação do Cruzeiro, a polícia foi lá, o Ministério Público foi lá. O que está acontecendo com o Treze? Na minha visão, é caso de polícia, Polícia Civil. É justo vir e investigar. Estou sendo sincero, de coração, eu estou envergonhado com a situação do Treze. O clube não tem nada, não tem nada.
Vale ressaltar que o Cruzeiro, clube citado por Jeferson, também vive momentos complicados. O gigante brasileiro foi rebaixado em 2019 e, até então, permanece na Série B do Brasileirão. No entanto, os problemas na gestão do clube se tornaram caso de polícia numa investigação que segue até os dias de hoje.
Jeferson também contou problemas pessoais que está vivendo. Ele disse que o seu filho estava doente em casa no momento em que Treze e Floresta se enfrentavam. O goleiro relatou que, ao longo dos atrasos salariais, teve atleta recebendo 50% ou até mesmo um vale fornecido pela própria diretoria do Galo da Borborema.
Eu estou envergonhado com a situação do Treze. O clube não tem nada — Jeferson
Segundo o jogador, o seu contrato com o Treze vai até o dia 29 de dezembro. Ele acredita que, depois disso, dificilmente vai seguir atuando pelo clube.
— A situação está dificílima, e eu preciso colocar a minha cara aqui, pois estou há mais tempo no clube. O meu contrato vence no dia 29 de dezembro, então eu não sei como vai estar a minha vida daqui para lá. Mas eu só acho que não é justo o Treze passar por essa situação. No ano que vem, o clube só vai ter o estadual para disputar, sem renda, falando de outras competições. Então eu vou falar por mim: já perdi as contas de quanto tempo estou sem receber. No ano passado, foram cinco ou seis meses, e neste ano o meu último salário foi em junho, e ainda falta receber o mês de junho. O ano está acabando. Aqui o que se diz é que todo o dinheiro que chega está bloqueado. Aí o jogador recebe um vale ou 50%. Isso não é justo. O Treze está numa situação horrível. É preciso ter transparência. Como você faz um planejamento desses para um pai de família? O meu filho está doente em casa e eu estou gastando do meu bolso. E nisso o torcedor está sofrendo, cansado, e está certo, eles estão com a razão. A minha situação é insustentável. E digo isso por tudo que vivi aqui. O Treze precisa se unir, porque, se não se unir, vai ser sofrimento — afirmou.
Por fim, Jeferson destacou que esta sua passagem pelo Treze tem sido algo único em sua carreira. O camisa 1 reforçou que jamais viveu algo parecido ao longo dos seus 35 anos de vida. Ele ainda pediu desculpas ao torcedor, reconhecendo que não fez uma boa temporada em 2021.
— Os problemas são desde o ano passado. Eu entendo que teve a pandemia, mas o clube recebeu ajuda da CBF e nada foi passado para os jogadores. Eu gostaria que as pessoas do clube falassem, que se unissem, porque o momento é complicadíssimo. Eu, com meus 35 anos, nunca vivi um ano como este. Nunca tinha visto uma empresa agir dessa forma, com toda a minha sinceridade. Eu já trabalhei em clubes que atrasaram salários, em clubes difíceis, mas nunca foi dessa maneira. Ninguém me chamou para conversar, só empurrando com a barriga. Será que agora vão me chamar para conversar? Eu não acredito. Eu peço desculpa ao torcedor, porque foi o meu pior ano como profissional, mas eu tenho fé que as coisas vão melhorar — finalizou Jeferson.
Além do Treze, Jeferson tem passagem pelo Campinense no futebol da Paraíba. O goleiro mineiro também já defendeu equipes como CRB, CSA e Central.
Enquanto isso, o Treze vai seguindo um dos seus momentos mais difíceis na história. Em 2022, o calendário da equipe vai ser curto, pois vai disputar apenas o Campeonato Paraibano. Na parte administrativa, o então presidente Walter Cavancalti Júnior está afastado de suas funções após ser punido pelo STJD pelo não pagamento das taxas da arbitragem na partida contra o América-MG, pela primeira fase da Copa do Brasil deste ano. Quem está no cargo de mandatário alvinegro é João Paiva Filho, que admitiu uma situação financeira complicada no Galo da Borborema.
Por Redação do GE
Campina Grande
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