Invariavelmente o futebol está envolto em escândalos, mas parece que a Paraíba tem um apreço maior pelo assunto, sabe o porquê? Ouso arriscar: IMPUNIDADE.
Sim, a palavra tem que ser exposta com letras garrafais para ver se acordamos para uma triste realidade que insiste em nos rodear. Enquanto alguns falam em coincidência, qualquer cidadão sério verifica que o problema tem a mesma origem.
Compulsar as diversas colunas semanais publicadas (quase 200 desde 2016) desaguará em ver inúmeras formas diferentes de tratar o mesmo problema: inexistência de Governança Corporativa e Compliance em nosso futebol.
Para não termos que revolver jornais antigos, repriso que Governança Corporativa, em resumo, é um sistema pelo qual organizações são estruturadas entre os próprios administradores, e em suas relações com terceiros, para atender quatros princípios fundamentais: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa.
Responsabilidade corporativa é justamente o tal do compliance tão falado e pouco utilizado. Compliance é uma palavra bonita para conformidade, nada mais é do que agir de maneira proba, íntegra, em respeito às normas vigentes. Ou seja, é um arcabouço de disciplinas com a finalidade de prevenir e corrigir possíveis desvios de conduta, sendo um verdadeiro combate à corrupção interna das corporações que acaba reverberando no seio da sociedade como um todo.
A corrupção começa na fila do caixa que é furada e vai expandindo para pequenos furtos até chegar em casos mais drásticos, como a manipulação de resultado e a mais recente, utilização de jogos fictícios em casas de apostas.
De certo, não haverá um jogo fictício entre Flamengo e Corinthians, seria impossível esconder que a partida não foi realizada. Assim, os criminosos se utilizam de instituições desconhecidas no cenário nacional para criar uma realidade virtual com o único intento de tirar vantagem financeira.
A partir disso surge o outro lado da história, o corrompido, abraçando a assertiva de não estar fazendo nada demais, apesar de ser bem estranho obter benefício de maneira fácil. É simples, se alguém te oferecer algo sem você ter que fazer nada efetivo, ao menos desconfie.
Meus pais sempre disseram: filho, quando tiver vergonha de tomar uma atitude ou não poderá conta-la quando chegar em casa, deve estar fazendo algo errado. Essa foi minha primeira lição de Governança Corporativa: transparência.
Meu segundo aprendizado deu-se no parquinho, ao achar errado os grandalhões que batiam nos menores (eu incluído) e não nos deixar brincar. Ora, isso era um afronta a igualdade de direitos, e, portanto, um desrespeito a equidade que deve reger as relações interpessoais.
Por fim, não bastava ir à padaria comprar pão, no retorno, sobrando uns trocados, eu deveria devolve-lo aos meus pais. Eu não podia comprar algo sem permissão, mesmo diante da vontade de comer aquele chocolate que adorava. O terceiro princípio estava presente: prestação de contas.
Todas essas lições formaram o meu caráter e infelizmente, agora trabalhando com futebol e advocacia, vejo que estão distantes de uma parte expressiva da população. Porém, como ser tipicamente otimista, estou sempre falando de conformidade na esperança de contribuir, ainda que minimamente, para que esses princípios sejam divulgados e tenhamos a cada geração a expectativa de dias melhores, para que a IMPUNIDADE deixe de prevalecer e tenhamos Governança, não só Corporativa, mas em nosso dia a dia.
Eduardo Araújo
Advogado
eduardomarceloaraujo@hotmail.com
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