Fachada do prédio da Conmebol em Assunção (Foto: Martín Fernandez) |
Uma parte considerável das provas contra dirigentes e empresários acusados no "Fifagate" quase acabou destruída por uma goteira.
Há pouco mais de um mês chegou aos procuradores americanos um lote de documentos apreendidos em janeiro no prédio da Conmebol por autoridades paraguaias.
O caminho foi mais longo do que sugere a distância entre Assunção e Nova York. Foi preciso derrubar uma lei que vigorava havia quase 20 anos, aguardar a aprovação de um pedido de cooperação internacional e driblar a determinação de quem tentou impedir que esses documentos vissem a luz.
As portas da Conmebol foram literalmente arrombadas no dia 7 de janeiro deste ano. Uma força-tarefa cumpriu um pedido de busca e apreensão de documentos feito por autoridades dos EUA que investigam o mega esquema de corrupção no futebol.
Houve alguma resistência no início. Os poucos funcionários da confederação que trabalhavam na manhã daquela quinta-feira demoraram a entender que os procuradores, policiais e peritos contábeis só sairiam dali depois de recolher tudo o que procuravam.
A resistência durou pouco, mas nem por isso o trabalho foi simples. A força-tarefa de 13 pessoas escalada para invadir a Conmebol ficou quase dez horas no edifício de nove andares e 4 mil metros quadrados.
Informações foram encontradas nos lugares mais insólitos. Havia documentos escondidos em banheiros e na cozinha. O grosso do que se buscava estava numa sala trancada a cadeados instalada no subsolo do prédio.
Lá dentro, além de arquivos de metal e pastas de papelão, havia uma pilha de papéis soltos, desordenadamente amontoados, de quase um metro de altura, estrategicamente localizada embaixo de uma goteira.
Entre aqueles papeis que se deterioravam havia contratos diversos, atas de reuniões, notas fiscais, correspondência trocada entre dirigentes da Conmebol e da Fifa, cartas de políticos, exatamente o que policiais e procuradores tinham ido ali buscar.
O conteúdo das caixas de documentos e alguns terabytes de informação extraída dos computadores da Conmebol foram enviados em maio para os promotores americanos e agora serão usados no processo que já indiciou 41 pessoas.
Há pouco mais de um mês chegou aos procuradores americanos um lote de documentos apreendidos em janeiro no prédio da Conmebol por autoridades paraguaias.
O caminho foi mais longo do que sugere a distância entre Assunção e Nova York. Foi preciso derrubar uma lei que vigorava havia quase 20 anos, aguardar a aprovação de um pedido de cooperação internacional e driblar a determinação de quem tentou impedir que esses documentos vissem a luz.
As portas da Conmebol foram literalmente arrombadas no dia 7 de janeiro deste ano. Uma força-tarefa cumpriu um pedido de busca e apreensão de documentos feito por autoridades dos EUA que investigam o mega esquema de corrupção no futebol.
Houve alguma resistência no início. Os poucos funcionários da confederação que trabalhavam na manhã daquela quinta-feira demoraram a entender que os procuradores, policiais e peritos contábeis só sairiam dali depois de recolher tudo o que procuravam.
A resistência durou pouco, mas nem por isso o trabalho foi simples. A força-tarefa de 13 pessoas escalada para invadir a Conmebol ficou quase dez horas no edifício de nove andares e 4 mil metros quadrados.
Informações foram encontradas nos lugares mais insólitos. Havia documentos escondidos em banheiros e na cozinha. O grosso do que se buscava estava numa sala trancada a cadeados instalada no subsolo do prédio.
Lá dentro, além de arquivos de metal e pastas de papelão, havia uma pilha de papéis soltos, desordenadamente amontoados, de quase um metro de altura, estrategicamente localizada embaixo de uma goteira.
Entre aqueles papeis que se deterioravam havia contratos diversos, atas de reuniões, notas fiscais, correspondência trocada entre dirigentes da Conmebol e da Fifa, cartas de políticos, exatamente o que policiais e procuradores tinham ido ali buscar.
O conteúdo das caixas de documentos e alguns terabytes de informação extraída dos computadores da Conmebol foram enviados em maio para os promotores americanos e agora serão usados no processo que já indiciou 41 pessoas.
Conmebol, território inviolável
Conseguir uma ordem judicial para recolher documentos da Conmebol era algo impossível até 25 de junho de 2015, quando caiu uma lei paraguaia que dava imunidade diplomática ao prédio da confederação.
A lei 1.070 de 1997 concedeu à Conmebol "a inviolabilidade de sua sede e de seus bens, arquivos, documentos e papéis". Em janeiro de 1998 inaugurou-se a atual sede, localizada em Luque, grande Assunção, pertinho do principal aeroporto do país.
Nicolas Leoz, presidente da Conmebol entre 1986 e 2013, contou em uma entrevista ao jornal argentino "Olé" publicada em 2012 como se deu a criação da lei que permitiu à confederação operar nas sombras, sem ser incomodada.
- Durante a Copa América de 1997, na Bolívia, fiquei doente e fui internado. Um dia veio me visitar no hospital o presidente do Paraguai, Juan Carlos Wasmosy. Perguntei o que ele pensava da imunidade. E ele me disse: "Se você conseguir a Câmara de Deputados e o Senado, eu assino o decreto"
Em fevereiro de 2016, o atual presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, removeu a placa que representava a inviolabilidade do prédio da confederação (Foto: Divulgação/Conmebol)
Leoz se atrapalha com as datas, o que torna sua história inverossímil. A Copa América da Bolívia só começou em 11 de junho de 1997, e a lei foi assinada em 29 de maio. O que não muda o fato de que Leoz conseguiu apoio da Câmara dos Deputados, do Senado e do próprio presidente do Paraguai.
Entre 1997 e 2015, a Conmebol foi um território inexpugnável, regido por leis próprias, sem necessidade de prestar contas a ninguém a não ser à Fifa. E a Fifa, como ficou claro ao longo do último ano, não estava exatamente preocupada com transparência.
A barreira legal que guardava a Conmebol e seus dirigentes caiu exatamente um mês depois da primeira leva de prisões do Fifagate. Ante a pressão internacional, o presidente do Paraguai, Horacio Cartes, revogou a lei 1.070/1997 - o que levou ao pedido de ajuda vindo dos EUA e à consequente apreensão de documentos em 7 de janeiro.
Naquela data, a Conmebol estava sem comando - os três anteriores haviam sido presos. O atual presidente, Alejandro Domínguez, foi eleito no fim de janeiro. Um de seus primeiros atos foi remover da fachada a placa que representava a inviolabilidade do prédio.
As investigações resultaram na prisão dos três últimos presidentes da Conmebol (Nicolas Leoz, Eugenio Figueredo e Juan Angel Napout) e no indiciamento de 41 pessoas, entre elas o atual presidente da CBF e seus dois antecessores.
José Maria Marin (2012-2015) está em prisão domiciliar nos EUA e não pretende colaborar com a Justiça americana. Ricardo Teixeira (1989-2012) e Marco Polo Del Nero (2015- ) nunca mais saíram do Brasil depois que foram indiciados. Os três negam todas as acusações.
Entre 1991 e 2015, agências de marketing esportivo pagaram propina a cartolas da Conmebol. Os dirigentes recebiam dinheiro por fora e, em troca, cediam por valores baixos direitos comerciais e de transmissão de torneios realizados no continente - como a Copa América e a Copa Libertadores.
As empresas intermediárias lucravam alto ao vender esses direitos e daí extraíam o dinheiro para pagar as propinas. Como o GloboEsporte.com mostrou nesta semana, só um desses esquemas rendeu US$ 40 milhões em subornos para 11 dirigentes. O total é incalculável.
Conseguir uma ordem judicial para recolher documentos da Conmebol era algo impossível até 25 de junho de 2015, quando caiu uma lei paraguaia que dava imunidade diplomática ao prédio da confederação.
A lei 1.070 de 1997 concedeu à Conmebol "a inviolabilidade de sua sede e de seus bens, arquivos, documentos e papéis". Em janeiro de 1998 inaugurou-se a atual sede, localizada em Luque, grande Assunção, pertinho do principal aeroporto do país.
Nicolas Leoz, presidente da Conmebol entre 1986 e 2013, contou em uma entrevista ao jornal argentino "Olé" publicada em 2012 como se deu a criação da lei que permitiu à confederação operar nas sombras, sem ser incomodada.
- Durante a Copa América de 1997, na Bolívia, fiquei doente e fui internado. Um dia veio me visitar no hospital o presidente do Paraguai, Juan Carlos Wasmosy. Perguntei o que ele pensava da imunidade. E ele me disse: "Se você conseguir a Câmara de Deputados e o Senado, eu assino o decreto"
Em fevereiro de 2016, o atual presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, removeu a placa que representava a inviolabilidade do prédio da confederação (Foto: Divulgação/Conmebol)
Leoz se atrapalha com as datas, o que torna sua história inverossímil. A Copa América da Bolívia só começou em 11 de junho de 1997, e a lei foi assinada em 29 de maio. O que não muda o fato de que Leoz conseguiu apoio da Câmara dos Deputados, do Senado e do próprio presidente do Paraguai.
Entre 1997 e 2015, a Conmebol foi um território inexpugnável, regido por leis próprias, sem necessidade de prestar contas a ninguém a não ser à Fifa. E a Fifa, como ficou claro ao longo do último ano, não estava exatamente preocupada com transparência.
A barreira legal que guardava a Conmebol e seus dirigentes caiu exatamente um mês depois da primeira leva de prisões do Fifagate. Ante a pressão internacional, o presidente do Paraguai, Horacio Cartes, revogou a lei 1.070/1997 - o que levou ao pedido de ajuda vindo dos EUA e à consequente apreensão de documentos em 7 de janeiro.
Naquela data, a Conmebol estava sem comando - os três anteriores haviam sido presos. O atual presidente, Alejandro Domínguez, foi eleito no fim de janeiro. Um de seus primeiros atos foi remover da fachada a placa que representava a inviolabilidade do prédio.
As investigações resultaram na prisão dos três últimos presidentes da Conmebol (Nicolas Leoz, Eugenio Figueredo e Juan Angel Napout) e no indiciamento de 41 pessoas, entre elas o atual presidente da CBF e seus dois antecessores.
José Maria Marin (2012-2015) está em prisão domiciliar nos EUA e não pretende colaborar com a Justiça americana. Ricardo Teixeira (1989-2012) e Marco Polo Del Nero (2015- ) nunca mais saíram do Brasil depois que foram indiciados. Os três negam todas as acusações.
Entre 1991 e 2015, agências de marketing esportivo pagaram propina a cartolas da Conmebol. Os dirigentes recebiam dinheiro por fora e, em troca, cediam por valores baixos direitos comerciais e de transmissão de torneios realizados no continente - como a Copa América e a Copa Libertadores.
As empresas intermediárias lucravam alto ao vender esses direitos e daí extraíam o dinheiro para pagar as propinas. Como o GloboEsporte.com mostrou nesta semana, só um desses esquemas rendeu US$ 40 milhões em subornos para 11 dirigentes. O total é incalculável.
Por Globoesporte.com
Assunção, Paraguai
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