A cena se repetiu em todas as sedes por onde a seleção de Alejandro Sabella passou, sempre um dia antes da partida, conforme apurou a reportagem. O balcão de negócios começou a chamar a atenção e virou alvo de uma operação da subsecretaria de Inteligência do Rio e da Delegacia de Repressão a Crimes Organizados (Draco), que durou toda a tarde deste sábado. A suspeita principal é de que as entradas foram revendidas durante toda a Copa do Mundo por preços acima do mercado.
Todos os ingressos estão em nome da própria AFA, da qual o presidente é também vice-presidente da Fifa, Julio Humberto Grondona. Na cena do vídeo obtido pela reportagem, com imagens feitas pela Inteligência do Rio, o gerente de seleções da Argentina, Omar Souto, recebe um dinheiro (sempre dólares) por ingressos que acabam de ser vendidos. O episódio gravado aconteceu em Brasília, onde a seleção enfrentou a Bélgica.
Na capital federal, o órgão de segurança ainda flagrou Julio Ricardo Grondona, filho mais novo do chefão da AFA e da Fifa, participando das negociações. No Rio, era Alberto Capuchetti, ex-militar e chefe de segurança da seleção quem organizava a revenda.
Apesar da filmagem ter registrado a venda no meio do hall, a comercialização acontecia da seguinte forma na maior parte das vezes: no lobby dos hotéis das sedes por onde passou a federação montava uma espécie de bilheteria, com pelo menos seis pessoas atendendo aos "clientes" que apareciam.
A revenda não era para qualquer um, no entanto. Quem chegava, e só argentinos eram recebidos, havia que dizer o nome de algum contato importante que tinha lá dentro e só assim era liberado. De todo esse processo, uma coisa chamou mais a atenção dos investigadores: o momento de entega do ticket e pagamento acontecia dentro de uma sala de portas fechadas.
Apesar das suspeitas, a inteligência do Rio e a Draco não conseguiram fazer o flagrante. Quatro pessoas foram encaminhadas para a delegacia depois de receberem as entradas, mas os fiéis compradores negaram que tenham adquirido os bilhetes por preços acima do que aqueles que constavam no papel, os oficiais. O destino dos tickets é desconhecido.
Nos depoimentos, as testemunhas afirmaram que foram ao hotel da Barra depois de terem combinado previamente com Luis Segura, o presidente do clube Argentino Juniors, a compra desses ingressos - cada um adquiriu quatro deles (veja as declarações abaixo, ao final da matéria, documentos obtidos pela reportagem).
Outro nome importante envolvido nas bilheterias é o de Emilio Vázquez, contador da AFA. Ele era uma das pessoas que os torcedores procuravam especialmente na capital federal. Curiosamente, logo depois de ser deportado do Brasil, o mais perigoso barra brava argentino deu uma coletiva de imprensa e afirmou que conseguiu seus ingressos justamente com esse dirigente - o torcedor estava na lista dos 2100 que não poderiam entrar no país durante a Copa do Mundo, já que estão proibidos de entrarem em estádios.
"As entradas são para atender os patrocinadores e relações públicas. Não tem nada de estranho, diz, Vázquez, para o La Nacion.
"Não me consta o que fazem com as entradas, se revendem ou não. Temos os dados pessoais de quem leva os ingressos", afirmou.
Palavra da Fifa
Perguntada pela reportagem sobre a movimentação da delegação argentina, a Fifa respondeu que todas as federações recebem uma carga de ingressos e que permite a prática, desde que a venda aconteça pelo preço oficial, afim de permitir que mais torcedores dos países que não são sede possam assistir ao evento.
Outros casos
A AFA havia sido citada anteriormente em uma outra investigação da Polícia e do Ministério Público do Rio de Janeiro. A suspeita era de que estivesse envolvida em um escândalo internacional, ao descobrirem a existência de uma rede ilegal de venda de entradas para o Mundial, que faturava cerca de 450 mil dólares por partida, comandada pelo argelino Mohamadou Lamine Fofana.
Pelo menos quatro tickets foram achados no mercado paralelo com o nome de Humberto Grondona, um dos filhos do presidente da AFA, e também técnico do sub-20. A explicação da entidade, logo depois, foi de que o treinador deu para amigos e não sabe o que fizeram com as entradas.
ESPN
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