Ídolo se despede do futebol em festa para quase 40 mil pessoas no Pacaembu, em amistoso entre Palmeiras de 99 e Seleção de 2002
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O jogo foi um encontro de estrelas, entre os campeões do mundo de 2002 e
os palmeirenses que conquistaram a Libertadores de 1999. Mas ninguém
brilhou mais que Marcos, que fez boas defesas, anotou um gol de pênalti e
ainda virou centroavante no segundo tempo, antes de se despedir com um
discurso para emocionar não só aos torcedores do Palmeiras, mas a
qualquer fã do futebol (veja no fim do texto).Em vários momentos, aliás, ele teve dificuldades para segurar a emoção. Na entrada de campo, levava no colo o filho caçula, Marcos Vinícius, recém-nascido. Ao seu lado, os dois mais grandinhos, Lucca e Anna Julia. Ganhou diversos presentes, como uma réplica da defesa do pênalti de Marcelinho Carioca, na Libertadores de 2000. E cantou com toda a força o hino do Palmeiras, com ênfase no trecho "Defesa que ninguém passa".
Com a bola rolando, logo percebeu que Rivaldo tentaria fazer o papel de vilão na festa. O meia, que ainda está em atividade (mas sem clube no momento), arriscou três lindos chutes de fora da área. Marcos, com classe, e sem precisar fazer firula para a torcida, como muitos goleiros fazem hoje em dia, defendeu todos, arrancando aplausos de quase 40 mil torcedores que foram ao Pacaembu vê-lo em ação pela última vez - o público pagante foi de 36.517 pessoas e o total, de 38.858, com renda de R$ 2.456.510,00.
Marcos bate pênalti, faz o gol e comemora com a torcida (Foto: José Patrício / Ag. Estado)
Aos 17 minutos, mais festa. Edmundo foi derrubado por Belletti na área.
Pênalti para o Palmeiras. A torcida, enlouquecida, começou a pedir para
que Marcos batesse. Tímido, o goleiro avisou que não queria. Na
véspera, chegara a dizer, no programa Arena SporTV, que se armassem um
pênalti para ele bater, chutaria para fora. Mas o clamor foi grande.
Cafu, capitão da Seleção de 2002, cruzou o gramado para buscar Marcos.
Outros jogadores fizeram o mesmo. Lentamente, ele se dirigiu até a área
adversária. Rindo, ainda brincou com Ronaldo Fenômeno. E quando a
árbitra Ana Paula de Oliveira autorizou, tomou distância e bateu firme,
no meio do gol (Dida caiu para a direita), abrindo o placar. Todos os
jogadores foram abraçá-lo.
Minha vontade era fazer gol de escanteio, de cabeça. Mas não teve
jeito. Bati então o pênalti com aquela bola de segurança, no meio do
gol"
Marcos
Depois do gol, o jogo se abriu - quem estava no ataque não voltava para ajudar no meio, e quem jogava no meio torcia à distância pelos zagueiros. Era uma festa, afinal, e com muitos jogadores já aposentados há muito tempo. Alguns jogadores, como Evair e Ronaldo, apresentavam uma barriguinha acima da média. E coube justamente ao Fenômeno o chute mais perigoso para defesa de Marcos - aos 39, rasteirinho, no canto direito do "Santo", que mostrou toda sua categoria e segurou firme.
- O Ronaldo bateu no cantinho, foi duro pegar - disse Marcos, no intervalo.
Marcos mostra segurança e defende firme (Foto: Douglas Aby Saber /Agência Estado)
Na jogada seguinte, novo gol do Palmeiras de 99 - numa jogada que
passou pelos pés de Evair e Edmundo, e chegou para finalização de Paulo
Nunes. O "Diabo Loiro" correu para reverenciar a torcida, que, vez ou
outra, vaiava alguns dos jogadores em campo pela Seleção, como Edilson
(pivô de briga com o próprio Paulo Nunes, em 1999) e Rivaldo, que
insistia em "jogar sério" e testar Marcos com chutes de fora da área.
Peço que vocês nunca se esqueçam de mim, porque eu nunca vou me esquecer de vocês"
Marcos, falando para a torcida
Aos 12 minutos, seguindo o cronograma, o jogo foi paralisado. Todos os jogadores do Palmeiras tiraram a camisa verde escura e ficaram com o novo modelo, verde claro, idêntico ao que Marcos usava no gol. Aliás, foi aí que ele deixou oficialmente de ser goleiro. O "Santo" foi realizar seu sonho de ser centroavante por um dia - em substituição a Evair, correu pra jogar na frente, dando lugar ao grande amigo Sérgio no gol. E que ironia: logo na primeira bola na área palmeirense, gol da Seleção, em cruzamento de Denílson para Edílson fazer de cabeça. Oito minutos depois, aos 24, o mesmo Edílson bateu, Sérgio deu rebote e Luizão empatou.
No ataque, Marcos se esforçava. Correu muito para evitar que uma bola saísse em tiro de meta. Deu toque de calcanhar. Chamou o jogo. Mas não teve a chance que queria para marcar com a bola rolando.
Pontualmente à meia-noite, quando o cronômetro marcava 25 minutos do segundo tempo, os refletores se apagaram. O dia havia mudado. Já era 12. Ou melhor: 12/12/12, número da camisa do goleiro na conquista da Libertadores de 1999. Com um microfone, ele discursou para a multidão:
- Queria fazer alguns agradecimentos especiais. Primeiro a Deus, pela carreira que me deu. Ao meu pai, que me ensinou a amar o futebol, e à minha mãe, que me ensinou a amar o Palmeiras. Aos meus irmãos, que foram meus primeiros treinadores, chutando bola em mim no terreirão ao lado de casa. Gostaria de agradecer à minha mulher, que sempre esteve comigo, nos momentos bons e principalmente nos ruins. Aos meus filhos, Lucca, Anna Julia e Marcos Vinicius. Tem muito momento na vida que a gente pensa em desistir, mas lembra dos filhos e resolve seguir em frente. Agradecer aos jogadores, que desmarcaram coisas importantes para estarem aqui. Agradecer a todos os meus treinadores, principalmente o Felipão, que está aqui hoje. Agradecer aos meus ídolos, Velloso e Sérgio, que me ensinaram muito. Agradecer também aos patrocinadores e organizadores da festa. Gostaria também de agradecer a todos os torcedores do Palmeiras. Eu queria falar algo especial para a torcida: quando saí de casa, meu sonho era ter sucesso, claro, mas o mais importante era conquistar o torcedor do meu time de criança, que é o Palmeiras. Eu queria que vocês tivessem orgulho de mim, porque eu estava em campo defendendo vocês. Saio de campo realizado e com sensação de dever cumprido. Pra mim, foi uma honra vestir a camisa da seleção brasileira e, principalmente, da Sociedade Esportiva Palmeiras. Peço que vocês nunca se esqueçam de mim, porque eu nunca vou me esquecer de vocês. Muito obrigado.
Terminava ali a carreira de “São Marcos de Palestra Itália”, um dos maiores ídolos recentes da história do Palmeiras e um dos destaques do pentacampeonato do Brasil em 2002.
Titulares: Marcos; Amaral, Cléber, Júnior, Galeano, César Sampaio, Edmundo, Pedrinho, Paulo Nunes, Alex e Evair. | Titulares: Dida; Cafu, Edmilson, Roque Junior, Roberto Carlos, Belleti, Ricardinho, Juninho Paulista, Rivaldo, Edílson e Ronaldo | ||
Reservas: Sérgio, Rivarola, Euller, Asprilla, Agnaldo Liz, Tiago Silva, Dudu, Ademir da Guia, Neném, Oseas, Tonhão, Rubens Júnior e Adãozinho | Reservas: Velloso, Denilson, Luizão, Djalminha, Antônio Carlos e Zé Roberto | ||
Técnico: César Maluco | Técnico: Luiz Felipe Scolari | ||
Gols: Marcos, aos 21, e Paulo Nunes, aos 41 minutos do 1º tempo; Edilson, aos 16, e Luizão, aos 24 minutos do 2º tempo | |||
Arbitragem: Ana Paula Oliveira | |||
Local: Pacaembu |
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