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quinta-feira, 6 de maio de 2021

Choro, suspeitas e afastamentos: os bastidores do rebaixamento do Macaé e da investigação da Polícia

Dante, zagueiro do Macaé no Campeonato Carioca (Foto: Tiago Ferreira)
Os lances da derrota do Macaé por 4 a 2 no dia 17 de abril, pela penúltima rodada da Taça Guanabara, viralizaram e ligaram o alerta diante da facilidade com que os jogadores do Madureira chegaram ao gol adversário. Como o ge publicou na semana passada, a polícia e o Tribunal de Justiça Desportiva do Rio (TJD-RJ) abriram investigação com base no relatório de uma empresa especializada em apostas no futebol. O documento aponta suspeitas com relação ao volume de apostas e os lances do jogo.
Nos dias seguintes ao jogo realizado em Conselheiro Galvão, o telefone do técnico do Macaé, Luciano Lamóglia, não parou de tocar. Amigos que assistiram aos gols, intrigados, entraram em contato com o treinador, que fez na derrota para o Madureira sua estreia no comando da equipe. "Luciano, o negócio aí está escandaloso, alguma coisa errada tem", dizia um dos áudios.
O relatório, feito pela empresa Sportradar, aponta indícios de conhecimento prévio dos apostadores sobre uma derrota do Macaé por ao menos dois gols de diferença no primeiro tempo (terminou 2 a 0 para o Madureira) e sobre um placar final com ao menos quatro gols (terminou 4 a 2), além de narrar lances do jogo e citar nomes de jogadores envolvidos.
Dois jogadores são citados, diretamente. O goleiro Ricardo e o zagueiro Dante (apelido de Wanderson). O primeiro esteve envolvido principalmente no terceiro gol do Madureira, um chute sem muita força de Juninho de fora da área. O goleiro pulou atrasado e a bola entrou de mansinho no canto. Por sua vez, no quarto gol, Dante não acompanhou o meia Caíque Valdívia, que concluiu livre na entrada da pequena área. (Veja todos os gols no vídeo acima)
Na hora do jogo, inconformado por sofrer dois gols depois de ter buscado o empate, Luciano Lamóglia berrou na beira do campo que o time estava "levando gol de pelada". O grito soou mal no banco do Madureira, que se sentiu desmerecido, e o técnico no apito final chegou a pedir desculpas e explicou que estava apenas descontente com a postura do seu sistema defensivo.
Mais tarde, em troca de mensagens com amigos, o treinador de 52 anos, com passagens por outras equipes pequenas como Quissamã e Goytacaz, chegou a chorar em um dos áudios: "Eu estou arrasado, estou horrorizado..."
Luciano foi chamado na penúltima rodada para apagar o fogo do clube que precisava vencer o Madureira para manter as chances matemáticas de evitar a queda. Já rebaixado e diante da repercussão dos lances, ele cogitou não comandar a equipe contra o Botafogo na semana seguinte, mas mudou de ideia ao conversar com o presidente Mirinho. Chegou a comentar sobre suas suspeitas e teve ao menos um pedido atendido: o zagueiro Dante foi afastado e sequer se reapresentou.
Ricardo só não teve o mesmo destino porque o Macaé àquela altura já não tinha mais goleiro no elenco além do garoto Caio Dias, da base. O time foi goleado por 4 a 0 no Estádio Nilton Santos e encerrou sua participação no Carioca em último lugar na tabela, com 10 derrotas e um empate nos 11 jogos do Carioca de 2021.
Luciano Lamóglia foi procurado pelo ge, mas preferiu não comentar sobre o caso. Já o goleiro Ricardo não respondeu até a publicação da reportagem. Por sua vez, o zagueiro Dante negou fazer parte de qualquer esquema e destacou que foi o artilheiro do Macaé no Carioca, com dois gols.
- É calúnia contra a minha pessoa, nunca fiz isso - disse o zagueiro, que reconheceu que "não foi bem" diante do Madureira e afirmou ter ficado fora do jogo diante do Botafogo "por opinião do treinador".
Já o presidente Mirinho, que nos últimos meses está afastado do futebol do clube por problemas de saúde, disse que apoia as investigações porque tem "o maior interesse de descobrir se tinha bandido dentro do Macaé".
- Eu fui à federação, conversei com o presidente e levei os telefones de todos os jogadores, inclusive da diretoria. É a polícia que tem que investigar quem é o culpado, mas eu acho que não tem nada (de esquema), o time era ruim mesmo, a verdade é essa. Eu tomei um susto com isso.
Suspeitas em outros jogos
Nas últimas semanas, o ge ouviu jogadores e diversas pessoas envolvidas nos bastidores do Macaé. Os entrevistados dizem que as suspeitas de haver algum esquema repousam não só sobre a derrota para o Madureira, mas sobre várias outras partidas da equipe no estadual. Eles também acreditam no envolvimento de membros da diretoria.
A quantidade de escanteios contra o Macaé foi algo que chamou a atenção. Só na derrota por 3 a 1 para o Vasco na quinta rodada, a equipe cedeu 10 escanteios nos primeiros 20 minutos de jogo. Veja alguns deles no vídeo abaixo.
Antes da partida contra o Nova Iguaçu pela sétima rodada, ainda em março, torcedores compareceram a um treino da equipe e confrontaram jogadores e membros da diretoria sobre as suspeitas de manipulação. As torcidas organizadas foram alertadas por um perfil falso no Instagram, que disse que os atletas "venderam o jogo" contra o Vasco e que voltariam a fazer isso em outros confrontos, "principalmente contra os grandes".
O ge enviou mensagem ao perfil para tentar obter outras informações, mas não houve retorno.
Outro episódio que levantou suspeitas foi o desligamento do goleiro Milton Raphael, ídolo do clube pelo qual conquistou a Série C do Brasileirão em 2014. Depois de defender a Portuguesa da Ilha do Governador na temporada passada, Milton chegou para ser o número 1 do Macaé no Carioca, foi titular nos seis primeiros jogos e um dos destaques do time, apesar das derrotas.
No jogo contra o Vasco, por exemplo, ele foi eleito o melhor goleiro da rodada e recebeu elogios de vascaínos. Na semana seguinte, minutos antes da partida contra o Nova Iguaçu, ele recebeu a notícia de que havia sido barrado por Charles de Almeida, segundo dos quatro técnicos do Macaé no Carioca - Eduardo Allax e Dario Lourenço foram os outros treinadores.
Diferente das partidas anteriores, quando os jogadores ainda na concentração eram informados sobre o time titular e recebiam instruções sobre o que fazer em campo, não houve preleção naquele dia, de modo que Milton saiu do time sem saber o motivo.
No vestiário, assim que a escalação foi passada, faltando aproximadamente 30 minutos para o início do jogo, o goleiro procurou Charles para confirmar se começaria no banco. Com o sinal positivo do treinador, Milton pegou seus pertences, pediu um Uber e foi para casa. Dias depois, acertou sua saída do clube - além dos atrasos salariais, o ge apurou que ele se sentiu boicotado após boas atuações. Procurado, Charles de Almeida não respondeu às mensagens.
Jogadores e funcionários do Macaé não receberam salários desde o início do Campeonato Carioca - a equipe chegou a fazer um protesto antes do jogo contra o Madureira. Rebaixado, o time vai disputar a Série A2 do Carioca a partir de junho.

Por Gustavo Garcia, Raphael Zarko e Tébaro Schmidt 
GE Rio de Janeiro

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