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terça-feira, 27 de abril de 2021

Nos bancos de reservas vazios, a imagem do esgotado modelo dos Estaduais

Calendário atual sufoca os grandes e não é mais capaz de sustentar economicamente os pequenos (Foto: Reprodução)
Tarde de sábado em São Januário. Adversário do Vasco na rodada final da primeira fase do Campeonato Carioca, o Resende se apresentou para o jogo com onze titulares e apenas sete reservas, cinco a menos do que o permitido. Destes suplentes, um era jornalista e YouTuber, mas não um atleta profissional. Dias antes do jogo, diante da proximidade do fim do Estadual e da falta de calendário para a temporada, o clube antecipara a dispensa de nada menos do que onze jogadores.
Um dia depois, foi a vez de o Macaé se apresentar para enfrentar o Botafogo com oito suplentes no banco e alguns jovens entre os relacionados. Após dispensas de atletas, o elenco desfalcado eram somente a face visível de um problema maior. Na rodada anterior, quando foram derrotados pelo Madureira, os jogadores se sentaram no gramado de Conselheiro Galvão em protesto. O time, que ganhou apenas um ponto em 11 jogos, não recebeu salários na atual temporada. Semanas antes, o Bangu, vice-lanterna do Carioca, também vira um protesto de atletas: por falta de pagamento, o elenco se recusou a treinar.
Do Rio a Belo Horizonte, o Mineirão viu, também neste domingo, o Cruzeiro enfrentar um Patrocinense que terminou o jogo com o banco de reservas vazio: havia apenas cinco suplentes e todos entraram no jogo. O clube jogará a Série D, prevista para começar em um mês. Ainda assim, antecipou rescisões de contratos com jogadores. A competição nacional da quarta divisão tem despesas de transporte e hospedagens, mas não distribui premiações ou cotas de TV.
É absolutamente constrangedor ver os gigantes nacionais submetidos a jogos contra rivais mambembes, incapazes de se apresentarem compostos, a ponto de deixarem assentos vazios nos bancos de reservas por falta de atletas. As cenas do fim de semana, comuns nas rodadas finais dos Estaduais em boa parte do Brasil, derrubam alguns discursos e terminam com qualquer dúvida sobre a maior das urgências do país: a reforma profunda no calendário. O Brasil se acomodou num sistema que é ruim para todos.
A incapacidade dos pequenos de cumprirem obrigações durante os escassos três meses de disputa torna cristalino que os torneios não cumprem mais qualquer objetivo: não sustentam financeiramente os menores em condições minimamente dignas, sufocam o calendário dos grandes e não preenchem o vazio de compromissos dos clubes que não estão na elite. Encerrada a fase inicial dos Estaduais, dezenas de clubes ficam sem atividade. Ou, ao menos, sem competições capazes de gerar alguma receita. Saem de cena os jogos, entra o desemprego.
Chegamos a uma estrutura que, enfim, igualou as sensações dos gigantes e dos pequenos em relação aos Estaduais: o modelo cria problemas para a esmagadora maioria - espécie de ilha no futebol brasileiro, o Campeonato Paulista tem bom nível técnico e sustentabilidade financeira, mas a maratona de jogos é tamanha que as últimas rodadas assistiram a um desfile de equipes reservas.
Há um evidente anacronismo nas disputas locais num mundo globalizado. O resultado é a crescente dificuldade de comercializá-los. Ao mesmo tempo, pregar a pura e simples extinção nos levaria ao risco de inviabilizar a existência de centenas de clubes da base da pirâmide e reduzir a base de revelação de atletas no Brasil. Não é uma equação simples, mas é evidente que o modelo atual é insustentável. Os menores precisam de disputas com custos mínimos, algum nível de fomento vindo do topo da pirâmide e uma capacidade de sobrevivência que não dependa de mais de uma dezena de jogos contra as maiores marcas do futebol nacional. É preciso estudar caminhos, como a viabilidade econômica da transformação dos estaduais numa espécie de quarta ou quinta divisão nacional, colocando todos os clubes no mesmo sistema de acesso e descenso.
Seja qual for a solução, é preciso romper com a apatia atual. A cada ano, a CBF divulga um calendário que, na prática, é inexequível para os principais times do país. Estes se calam e reservam suas reclamações tardias e casuístas para quando se sentem mais prejudicados do que o rival. Por três meses, jogam em gramados ruins, sob exigência técnica baixíssima e numa maratona de partidas que pouco oferecem em troca: os Estaduais fabricam crise nos perdedores e, aos ganhadores, permitem uma breve celebração que já não é mais capaz de, sozinha, tornar uma temporada bem-sucedida. E enquanto houver jogos de mais, haverá qualidade de menos.

Blog do Mansur
GE

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