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sábado, 2 de maio de 2020

Senna x Prost: em 1988, rivais venceram 15 das 16 corridas e esmagaram concorrência na F1

Senna ergue o troféu de sua primeira vitória pela McLaren, em 1988 — Foto: Divulgação
Quem acompanhou não esquece o primeiro título mundial de Ayrton Senna na Fórmula 1. Em 1988, o brasileiro alcançou sua primeira conquista com uma vitória memorável no GP do Japão, que a TV Globo mostra de novo às 9h45 deste domingo. Portanto, nada melhor do que o F1 Memória relembrar como foi aquela temporada na qual começou para valer a ferrenha rivalidade entre Ayrton e o francês Alain Prost.
Naquele ano, os dois venceram 15 das 16 corridas do campeonato, num domínio até então sem precedentes na história da Fórmula 1. É claro que havia uma grande superioridade da McLaren-Honda MP4/4, mas a grande vantagem da equipe sobre as adversárias criou um cenário no qual Ron Dennis poderia permitir que seus pilotos brigassem abertamente pelas vitórias. E como brigaram...
É possível dividir o campeonato em três partes. Na primeira, apesar de Senna ter se mostrado mais rápido desde o começo, Prost se deu melhor, não cometeu erros e acumulou vitórias, enquanto o brasileiro perdeu pontos preciosos no Brasil e, principalmente, em Mônaco.
Aos poucos, Ayrton começou a converter a velocidade em vitórias e esmagou o adversário na segunda parte do campeonato. Entre as etapas do Canadá e da Bélgica, Senna venceu seis vezes em sete corridas. Já na terceira parte, Prost voltou à carga com duas vitórias seguidas, o que deixou a decisão para as duas corridas finais (Japão e Austrália).
Como praticamente apenas Senna e Prost venceram no ano, e havia por regulamento o descarte dos cinco piores resultados nas 16 provas, a matemática era clara: conquistaria o campeonato quem vencesse mais corridas. Por isso, mesmo Ayrton tendo mais abandonos do que o rival (três contra dois), o fato de o brasileiro ter alcançado mais vitórias foi decisivo.
No fim do campeonato, Prost até somou mais pontos absolutos (105 a 94), mas as oito vitórias contra sete renderam a Ayrton Senna seu primeiro campeonato mundial. Insisto: quem acompanhou bem aquela temporada não esquece. E quem não acompanhou, vai entender a partir de agora, corrida a corrida, por que 1988 foi um ano tão marcante.
O carro da McLaren ficou pronto em cima da hora da abertura da temporada, no Brasil, mas se mostrou poderoso desde o começo. Senna fez a pole e chegou para a corrida como favorito. Mas um problema no câmbio na hora da largada fez Ayrton agitar os braços, o que cancelou o procedimento. O brasileiro trocou de carro e largou dos boxes, mas a ação era irregular, e Senna foi desclassificado depois de andar em segundo. Liderando de ponta a ponta, Prost ganhou com tranquilidade.
Senna voltou a fazer a pole position, mas desta vez confirmou o primeiro lugar desde a largada. Prost saiu muito mal e passou em sexto no fim da primeira volta. Com a McLaren superior, o francês se recuperou até chegar novamente à segunda posição. Mas a essa altura, Ayrton já estava longe demais para que houvesse uma disputa. Mesmo com um cheiro de queimado e um câmbio um pouco frouxo, Senna se manteve na ponta para vencer a primeira corrida como piloto da McLaren.
Tudo indicava uma esmagadora vitória de Senna. Na classificação, o brasileiro fez um tempo incrível, mas seguiu melhorando volta a volta até que... se assustou e voltou aos boxes: "Já não estava mais pilotando conscientemente. Para mim, era como se fosse uma outra dimensão." Na corrida, Senna disparou na ponta, enquanto Prost caiu para terceiro e ficou preso atrás de Gerhard Berger (Ferrari). O francês até tomou o segundo lugar, mas já estava bem atrás. Ayrton abriu 55 segundos, e a McLaren ordenou que ele tirasse o pé, mas o brasileiro se desconcentrou e bateu sozinho... Prost, claro, venceu. A perda da vitória fez com que Senna buscasse um maior autoconhecimento. Não é exagero dizer que Mônaco foi decisivo para a virada.
Senna fez mais uma pole position, mas perdeu qualquer chance de vencer logo nos primeiros metros de corrida, quando a válvula pop-off (usada para limitar a potência dos motores turbo) se abriu na largada. Ayrton caiu para terceiro, passou Nelson Piquet (Lotus), mas nunca teve ritmo para alcançar Prost. Primeiro porque o francês foi impecável, e segundo, porque a válvula voltou a atrapalhar o brasileiro em outros momentos da prova. Alain começava a abrir perigosamente na tabela.
Pole position pela quinta vez em cinco provas, Senna foi ultrapassado por Prost na largada. Por 18 voltas, o brasileiro perseguiu o companheiro até frear "pra lá do Deus me livre" no hairpin e assumir a liderança para não mais perdê-la. Foi o primeiro duelo direto entre os dois na temporada, e a vitória após duas derrotas seguidas foi muito importante para o moral de Senna, que chegou a ser questionado pelos críticos.
Senna era o mestre dos circuitos de rua. E em Detroit, nos Estados Unidos, isso ficou patente em todo o fim de semana. Mais uma pole position e vitória categórica de ponta a ponta para o brasileiro, com 38 segundos de vantagem para o francês. Este, após outra largada ruim, teve de trabalhar bastante para subir de quinto para segundo. Para alívio de Prost, que detestava correr em Detroit, ele jamais teria de voltar a essa pista, que saiu do calendário.
Após o domínio de Senna nas corridas americanas, Prost sabia que precisava reagir. E nada melhor do que fazer isso em casa. Em Paul Ricard, o francês conseguiu um excelente acerto para seu carro e conquistou sua primeira pole na temporada. Mais: dominou a prova desde o começo e só foi perder a ponta após se atrasar numa troca de pneus. Como o próprio Senna dizia, Prost não gostava, mas acelerava fundo quando precisava e recuperou a ponta com uma manobra sensacional, após encurralar o rival na negociação de uma ultrapassagem sobre um retardatário. Já Ayrton quase não terminou a prova, com sérios problemas de câmbio, mas garantiu o segundo lugar.
Em Silverstone, a McLaren estreou uma nova carroceria que não deu certo para aquela pista nos treinos, e Senna e Prost largaram apenas em terceiro e quarto, atrás das Ferraris de Gerhard Berger e Michele Alboreto. Mas, como o consumo de gasolina do motor Ferrari era mais elevado, a McLaren seguiu favorita para a corrida. Só que choveu a cântaros, e Senna deu show: passou Berger e Alboreto e disparou na ponta. Já Prost, que sempre se mostrou desconfortável na chuva, foi caindo, caindo... até que levou uma volta de Senna quando já era 16º. Recolheu-se aos boxes, e viu o brasileiro vencer. Humilhante.
Em Hockenheim, voltou a chover na corrida, embora com menos intensidade. Senna liderou desde o começo, enquanto Prost, depois de outra largada ruim, caiu de segundo para quarto. Correndo até com garra no molhado, o francês reagiu e voltou para segundo. Rodou ao tentar alcançar Senna, mas manteve a posição, enquanto Ayrton partiu para vencer pela quinta vez em nove provas. Pela primeira vez, o brasileiro tinha um número maior de vitórias no ano.
No apertado circuito de Hungaroring, os carros com motores aspirados poderiam ser uma ameaça, mas Senna fez mais uma pole, com Prost apenas em sétimo... Enquanto o brasileiro liderou desde o começo, o francês chegou a cair para nono, mas foi reagindo até chegar ao segundo lugar na volta 47 de 76. Com uma de suas melhores atuações no ano, Prost partiu para cima de Senna, chegou a tentar a ultrapassagem, mas levou um "X" sensacional. O brasileiro resistiu à pressão até o fim e pela primeira vez assumiu a ponta da tabela, já que os dois tinham a mesma pontuação, mas Senna tinha vencido mais corridas.
Quem largou mal em Spa foi Senna, que viu Prost assumir a liderança no começo. Mas, ainda na primeira volta, o brasileiro atacou para recuperar a primeira posição. O francês só voltou a ver o rival de perto no pódio, já que Ayrton disparou para a sétima vitória na temporada, com 30 segundos de vantagem. No pódio, Prost se dirigiu a Senna e simplesmente disse: "Parabéns, campeão..." E completou: "Em condições iguais, Senna é mais rápido do que eu". Muitos disseram que Alain estava se fingindo de morto para dar o bote. E os acontecimentos posteriores deram margem a essa tese.
Em Monza, tudo estava igual a Spa: Senna disparado na frente, e Prost em segundo. Mas tudo ruiu. Por causa da mistura ar-gasolina mais pobre adotada pela Honda para que seus pilotos não tivessem pane seca no fim, o motor de Prost quebrou. Para que o mesmo não acontecesse a Senna, a McLaren pediu que ele enriquecesse essa mistura, o que gastaria mais gasolina. Com isso, Ayrton teve de reduzir o ritmo, e as Ferraris de Berger e Alboreto encostaram. Na penúltima volta, Senna encontrou a Williams do retardatário Jean-Louis Schlesser. O francês se atrapalhou, e Ayrton, sem poder perder tempo, enfiou o carro. A batida tirou o brasileiro da prova, e Berger faturou a única vitória da Ferrari em 1988, um mês após a morte do Comendador Enzo Ferrari. Era para ser.
Com um excelente acerto de seu carro, Prost superou Senna na classificação no Estoril. Mas na largada foi o brasileiro quem partiu melhor, mesmo com uma fechada do francês. Mais rápido, Prost partiu para cima na abertura da segunda volta, e Senna fechou o rival perigosamente no muro dos boxes. Alain escapou da manobra temerária de Ayrton e disparou para a vitória, enquanto o brasileiro, com uma estranha leitura de consumo excessivo de gasolina, teve um ritmo muito ruim, chegando apenas em sexto. Resultado à parte, a harmonia da McLaren estava quebrada.
Em Jerez, Senna seria campeão se vencesse. Mas, depois de fazer a pole, Ayrton perdeu a liderança depois que Prost queimou clamorosamente a largada, e Nigel Mansell subiu para segundo com a Williams. Enfrentando os mesmos problemas de leitura do consumo de gasolina, Ayrton não acelerou o que normalmente a McLaren permitiria e suou sangue para terminar num distante quarto lugar. Com rendimento bem superior, e sem ter sido punido pela queima de largada, Prost venceu e adiou a decisão do título. Apesar de mais um resultado ruim, Senna era favorecido pelo descarte de dos cinco piores resultados, e Prost já estava cortando pontos. Por isso, uma vitória nas duas corridas finais bastava ao brasileiro para ser campeão. Especulou-se que o mau desempenho do carro de Senna era uma sabotagem para que o campeonato fosse decidido na terra da Honda, no Japão. Nem o mais brilhante roteirista de Hollywood faria melhor...
Dia 30 de outubro de 1988. De madrugada, o Brasil parou para assistir ao GP do Japão. Quem ficou acordado, não se arrependeu. Mas, se as duas corridas anteriores tinham sido frustrantes para Senna, o que dizer do começo da corrida em Suzuka? O motor Honda simplesmente morreu na largada, e Senna fez o carro pegar no tranco. Resultado: caiu de primeiro para 16º antes da primeira curva. Mas, com garra e perícia, Ayrton foi passando um a um seus adversários. Quando Senna estava em terceiro lugar, uma chuva fina começou a cair, e, após a saída de Ivan Capelli (March), a disputa direta ficou entre os rivais da McLaren.
Aí Ayrton passou de passagem por Prost e partiu para a vitória. Não sem antes levar outros sustos: o primeiro foi o recomeço da chuva, o que fez o brasileiro até pedir o encerramento da prova. O outro ele só revelou depois na coletiva pós-corrida: o painel do cockpit apontava erradamente que o consumo do carro estava muito acima do normal, e não seria possível para Senna completar a corrida. Mas era a McLaren quem estava sinalizando erradamente o número de voltas restantes. Senna tinha combustível, sim. E alcançou de forma fantástica o grande sonho da sua vida.
Ufa! Com o título nas mãos, Senna queria correr sem compromisso na última prova do ano, na Austrália. Correr sem compromisso, leia-se acelerar a valer. Mas aí o novo campeão do mundo foi dar uma de goleiro numa pelada e machucou o punho direito... Ayrton até fez a pole position, mas foi superado por Prost na largada e não conseguiu mais seguir o francês. Com dores e problemas de câmbio, Ayrton fechou a temporada de seu primeiro título com um segundo lugar.

Por Fred Sabino 
Globoesporte.com
Rio de Janeiro

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