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sábado, 29 de maio de 2021

N’Golo Kanté, o pequeno gigante da França

 
Kanté  (Foto: Divulgação)
Dia 15 de julho de 2018, estádio Lujnik, em Moscou. A França derrota a Croácia por 4×2 e ganha sua segunda Copa do Mundo. No meio das comemorações do título, a taça passa de mão em mão. Um a um,  atletas seguram o tão cobiçado objeto e posam para fotos. Em meio à euforia, um grupo de jogadores conversa. Um deles, o volante Steven N’Zonzi, do Sevilla, pega o troféu das mãos do meia Thauvin e entrega a outro jogador, para que ele também pudesse desfrutar daquele momento único. O tímido atleta era o volante N’Golo Kanté, um dos símbolos da equipe comandada pelo técnico Didier Deschamps. A personalidade e a vida desse craque mostram um pouco porque a conquista francesa na Rússia vai muito além do futebol.
Poucos jogadores de futebol foram tão falados durante o Mundial quanto Kanté. Elogiado por seu desempenho em campo, teve sua história exaltada nos quatro cantos do planeta como exemplo de superação e mobilidade social através do esporte. Uma trajetória de quem teve que aprender a lutar desde cedo.
Em 1998, a França ganhava a Copa do Mundo em casa.  No dia da conquista do inédito título, uma multidão tomou as ruas de Paris. Kanté era um deles, só que com um objetivo bastante diferente. Então com apenas 7 anos de idade, ele recolhia lixo na capital francesa para vender a uma empresa de reciclagem. Enquantos muitos celebravam, o menino pobre filho de imigrantes do Mali percorria grandes distâncias para sobreviver.
Perdeu o pai aos 11 anos de idade, pouco tempo antes de ingressar no futebol amador. Sua baixa estatura – Kanté tem 1,68m – sempre foi um fator de descrédito nos clubes onde passou. Com um futuro incerto no esporte, decidiu seguir estudando e obteve um diploma de contabilidade aos 18 anos.
Kanté (agachado, o primeiro da esquerda p/ direita), em campo pelo JS Suresnes, onde atuou dos 8 aos 18 anos (Foto: Divulgação)
Em 2013, Kanté ainda jogava na Terceira Divisão da França. Estreou na elite do futebol nacional apenas na temporada 2014/2015, atuando pelo Caen. “Eu nunca pensei que teria a capacidade de jogar no nível profissional”, disse na época o volante de 23 anos.  Destaque da equipe da região da Normandia, chamou a atenção de vários clubes, entre eles o Leicester da Inglaterra, que adquiriu seu passe por 8 milhões de euros. Uma mudança e tanto para alguém de vida bastante simples. “(Kanté) nunca chegava tarde. Sempre com um sorriso. No entanto, nada foi fácil. Cheguei a dar dinheiro para ele comprar comida. Mas nunca reclamou. Nunca ouvi. Exceto quando eu o forcei a começar o grito de guerra da equipe”, contou à revista France Football seu antigo treinador no Boulogne, Christophe Raymond.
Quase mudo no convívio social, o jogador fez muito barulho em campo pelo Leicester. Sob o comando do treinador italiano Cláudio Ranieri, conquistou o inédito título da Premier League de 2015/2016, considerado até hoje um dos maiores feitos de um clube de futebol. O volante jogou demais, a ponto de ser reverenciado pelo mítico ex-treinador do Manchester United, Sir Alex Ferguson: “O melhor jogador da temporada, de longe”, disse na época, segundo noticiou o jornal francês Libération.
Kanté com o troféu da Premier League (Crédito: Fanpage oficial do Leicester no Facebook)
Do Leicester, partiu rumo ao badalado e bilionário Chelsea, onde foi campeão nacional logo no primeiro ano e passou a integrar a seleção francesa. Kanté já se tornava grande, mas sem perder a simplicidade.
Copa da Rússia: o apogeu de Kanté
Reserva no vice-campeonato da França na Euro de 2016, dois anos mais tarde o volante se tornaria uma espécie de motorzinho da equipe do técnico Didier Deschamps. Em 7 jogos na Rússia, foram 68,5 km percorridos, 324 passes certos, 61 bolas recuperadas e só dois cartões, segundo os dados oficiais do torneio.
O ápice de Kanté se deu justamente no duelo contra nada menos do que Lionel Messi. Na partida diante da Argentina nas oitavas de final, foi dele a função de marcar o camisa 10 rival. O resultado foi um Messi discreto e vitória da França por 4×3.
Querido pelos companheiros de seleção, ganhou até uma música em sua homenagem. “N’Golo Kanté, pala palala, N’Golo Kanté, pala palala. Ele é baixinho, ele é gentil. Ele desarmou Leo Messi, em breve no Champs Élysée”, diz o refrão da canção que virou febre entre os torcedores franceses. A música foi até cantada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, na recepção aos heróis do título.
Ironicamente, a idolatria dos torcedores por Kanté bate de frente com uma conturbada França, envolta a tensões sociais e o crescimento de discursos anti-imigração. Assim como o volante de origem malinês, outros 18 campeões nasceram ou têm raízes em outros países. Do time que venceu a Croácia, apenas três atletas eram 100% franceses: o goleiro Lloris, o lateral Pavard e o centroavante. Foi a reedição da geração black-blanc-beu (negros, brancos e árabes), uma miscigenação já vista no time de 98 comandado pelo craque de origem argelina, Zinedine Zidane. Um pêndulo que extrapola os gramados e pende a julgar os jogadores entre heróis e vilões, conforme os sucessos e os fracassos.
Filho de imigrantes, negro, de origem pobre e muçulmano praticante, Kanté desfruta agora do prestígio adquirido no campo. Desde o Mundial, seu passado e vida têm chamado tanto a atenção quanto o futebol.
Kanté na marcação do craque alemão Mesut Ozil, do Arsenal (Foto: Divulgação)
Kanté desarma um adversário e a imprensa lembra que, mesmo comprado pelo Chelsea por 30 milhões de libras e rico, ele preferia ir aos treinos de carro popular.  Kanté protege a defesa em uma partida e o jornal inglês Time Sports exalta sua solidariedade, quando se ofereceu para pagar do próprio bolso a operação de busca pelo atacante argentino Emiliano Sala, seu ex-colega de Caen, morto no início deste ano em um acidente aéreo próximo ao Canal da Mancha.  
Herói invisível na Rússia, Kanté faz de tudo para não ser notado. Mas sua história precisa ser contada. A trajetória de alguém que caminhou muito para chegar aonde chegou, sem jamais perder a essência. O pequeno gigante da França bicampeã do mundo.

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