Morre Caroço de Pinha, simbólico e ilustre torcedor do Botafogo-PB - Esporte do Vale

Ultimas

Esporte do Vale

O Portal de Esportes do Vale do Sabugi

test banner

Post Top Ad

Responsive Ads Here

Ads

Responsive Ads Aqui 2

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Morre Caroço de Pinha, simbólico e ilustre torcedor do Botafogo-PB

Caroço de Pinha era frequentador assíduo das arquibancadas do Almeidão em dias de jogo do Botafogo-PB (Foto: Divulgação)
Morreu nesta quarta-feira, aos 63 anos, no Hospital Metropolitano, em Santa Rita, Caroço de Pinha, também conhecido como Jacaré, um dos principais torcedores-símbolo da história do Botafogo-PB. Antônio Joaquim de Sousa foi hospitalizado há algumas semanas, por conta da Covid-19. O torcedor morreu vítima de uma infecção hospitalar.
Caroço era uma figura folclórica no Estádio Almeidão e na torcida do Belo desde a década de 1990. Também era um habitante constante do Centro de João Pessoa, onde normalmente vivia caminhando.
Sem condições financeiras, sempre pedia dinheiro para entrar nos jogos do Belo, seu time do coração, do qual não perdia nenhuma partida em João Pessoa. E, em todo jogo, vários torcedores faziam cotas para pagar o seu ingresso.
Caroço também era levado para muitas partidas importantes fora de João Pessoa ou da Paraíba.
Botafogo-PB presta homenagem
Em suas redes sociais, o Belo — grande paixão de Caroço de Pinha — prestou sua homenagem. Lamentou a morte de um dos seus torcedores mais emblemáticos. E essa condição o próprio clube reconheceu, ao escrever na postagem que lamenta "a morte de um dos mais fieis e emblemáticos torcedores" do Alvinegro da Estrela Vermelha.
Caroço de Pinha homenageado em vida
Folclórico que era, o ilustre torcedor do Botafogo-PB, ainda em vida, foi homenageado. Tornou-se objeto de uma crônica. O jornalista e escritor Phelipe Caldas, também frequentador das arquibancadas do Almeidão, onde, vez ou outra, encontrava-se com Caroço de Pinha, é o autor dessa carícia feita no simbólico botafoguense. Phelipe escreveu, em seu livro "Quando a Saudade me Visita", uma crônica intitulada "Um trago mais para Caroço de Pinha" (leia abaixo).
Um trago mais para Caroço de Pinha
(crônica de Phelipe Caldas, publicado originalmente no livro "Quando a Saudade me Visita". Hoje, Caroço de Pinha morreu para sempre)
Decrete-se.
Publique-se.
Faça-se circular a informação por todos os botecos, ruelas e esquinas da Cidade Velha.
Caroço de Pinha está eleito.
Escolhido democraticamente.
Levado pelos braços do povo.
Carregado pelos pobres, pelos velhos, pelos bêbados, pelos eufóricos, pelos anônimos.
É o novo presidente do Estádio Almeidão.
E presidente de honra. Vitalício. Eterno. Quase um rei, por que não?
Com um governo popular. Com sede firmada na Arquibancada Sombra. Com as listras alvinegras de sua camisa surrada fazendo vezes de faixa presidencial. Com uma generosa lapada de cana e um cigarro Derby preso por entre os dedos como equipamentos de trabalho.
E, ao mesmo tempo, como armas. Resistências. Transgressões.
O velho Caroço é o símbolo maior de um futebol marginal como o da Paraíba e o de João Pessoa.
Um futebol pobre, de recursos parcos e gestão semiprofissional. Um futebol sofrido, gerido muitas vezes por corruptos, mas que ao mesmo tempo pulsa. Vibra. Persiste. Insiste em se manter vivo – e cativo.
Caroço de Pinha é uma das poucas unanimidades num ambiente sempre tão tensionado como o do futebol.
E isso é lindo.
Um homem negro, pobre, de idade incerta, rugas profundas que denunciam o sofrimento de quem não tem quase nada, que usa roupas carcomidas e tem um andar vacilante, bêbado mesmo, mas que desbanca os poderosos e se torna a principal imagem de um estádio de futebol.
Nem todo torcedor sabe quem é o presidente do Botafogo-PB. Muitos dos que sabem nem mesmo gostam dele. Mas todos, todos mesmo, sabem quem é Caroço, o misterioso e simples torcedor que há mais de trinta anos vai religiosamente aos jogos do seu time do coração. Todos, todos mesmo, reconhecem sua voz rouca e pouco articulada. A maioria já lhe pagou um trago. Os fumantes certamente já lhe doaram umas baforadas.
Caroço de Pinha é enigmático. Mítico. Folclórico. Poucos sabem que o nome dele é Antônio. E ninguém sabe direito onde mora. Quem são seus amigos e familiares. Como chega. Como vai. Como paga sua entrada. Como vive.
Só se sabe que chega. Sempre. Sagradamente. Pontualmente. Jogo após jogo.
E, como um homem afeito a rituais, chega sempre da mesma forma.
Bêbado. Animado. Dançando. Gritando. Conclamando seus súditos a caminhar sofregamente junto dele na procissão ritmada rumo à Sombra, único local onde se sente seguro, verdadeiramente em casa.
Caroço de Pinha é uma espécie de mago. Mágico. Profeta. Poeta.
Anos atrás, fui para um jogo do Belo em Fortaleza. Caminhei pelo entorno do Estádio Presidente Vargas. De repente, deparei-me com Caroço. Inebriado. Alegre.
Maltrapilho. Sem ingresso. Sem dinheiro. Mas, na hora do jogo, estava lá dentro do estádio. Bebendo mais. Fumando mais. Curtindo mais. Torcendo como sabe. Vivendo intensamente.
Não se sabe ao certo como ele consegue tudo isso.
Mas, presidente é presidente. Rei é rei. Sobrevivente é sobrevivente.
Dá um jeito.
Segue em frente.
Vive.
Resiste.
Para sempre, apaixonado e pleno, como só ele sabe ser.

Por Redação do GE
João Pessoa

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será publicado em breve após ser analisado pelo administrador

Publicar anúncio principal

Responsive Ads aqui