Cleodon Bezerra é presidente do Nacional de Patos — Foto: Reprodução |
Em um pronunciamento em conjunto, os presidentes dos rivais Nacional e Esporte de Patos decidiram se manifestar após o Naça aprovar o cancelamento da 1ª divisão do Campeonato Paraibano de 2021. Cleodon Bezerra, do Canário, e Davi Leitão, do Pato, culparam uma empresa terceirizada pelos clubes por toda confusão gerada no extinto Gol de Placa. A dupla ainda atacou o Governo do Estado, afirmando que houve calote por parte do poder público no tratamento com as equipes. Vale ressaltar que o programa foi extinto depois das fraudes dos dirigentes na execução para conseguir o repasse.
O pronunciamento foi divulgado na TV oficial do Nacional de Patos. No vÃdeo, aparecem Cleodon e Davi juntos e ambos tentam dar as suas versões sobre esse imbróglio que já dura mais de um ano. O dirigente do Canário do Sertão, time da elite do futebol paraibano, informou que jamais houve desvio de verba e deu sua versão sobre os CPFs de pessoas que morreram ou que jamais pisaram na ParaÃba. O mandatário nacionalino ainda culpou uma empresa terceirazada por provocar essa falha no programa Gol de Placa.
– O posicionamento do Nacional de Patos é baseado e pautado na legalidade. Diferentemente do que o Secretário da Fazenda do Estado (Marialvo Laureano) afirmou de forma totalmente falsa e mentirosa, o Nacional não desviou nenhum dinheiro do Gol de Placa. E não pode ser imputado ao presidente do clube na época esse crime de desvio, porque não houve. O recurso que entrou no Gol de Placa foi totalmente utilizado no futebol. Para deixar claro o que aconteceu, em 2018, foi contratada uma empresa. Todos os clubes contrataram essa mesma empresa. Essa empresa juntou todas as notas fiscais num bolo só. Tinham torcedores de todos os estados. Inclusive, tinha torcedor que morava em São Paulo, mas que apresentou o seu cupom aqui na ParaÃba. Ou seja, a confusão foi feita por essa empresa. Todas essas notas são fidedignas. As pessoas que vieram a falecer, quando ingressaram no programa, ainda estavam vivas, com os CPFs ativos – explicou Cleodon ao dar a sua versão.
Diferentemente do que foi informado por Cleodon Bezerra, na primeira reportagem que veio à tona sobre o caso, veiculada pelo jornal Folha de São Paulo, dirigentes de clubes utilizaram CPFs de pessoas que jamais estiveram na ParaÃba. Tudo isso para conseguir mais verba pública. A mesma matéria cita o exemplo do Serrano-PB, que, ao registrar um cupom fiscal e um CFP "fantasma", utilizou um nome um tanto quanto curioso: "Rafael da Abunda que nem Sente."
Após o fato ser apresentado, o Governo do Estado suspendeu o Gol de Placa, que posteriormente foi extinto. Por causa disso, surgiu o ParaÃba Esporte Total; porém, os clubes só podem ingressar no novo programa de incentivo depois que regularizarem as suas situações. Na elite do futebol da ParaÃba, apenas a Perilima está apta a apresentar um projeto para captar esse recurso.
Cleodon ainda garante que o dinheiro vindo do Estado foi aplicado de forma correta, citando o balanço financeiro do clube. Vale ressaltar que, dos clubes paraibanos, apenas o Botafogo-PB costuma divulgar o balanço ano a ano, conforme a regra. O presidente nacionalino também critica a imprensa, que, segundo ele, é favorável ao Governo.
– Quando eu assumi a presidência, em 2019, eu mesmo fui quem assumi isso tudo. Neste ano, nós fizemos da forma correta, com as trocas sendo realizadas aqui em Patos. E aà o Estado vem falar que o Nacional está devendo R$ 230 mil, quando, na realidade, o recurso foi somente investido no futebol, foi aplicado, está tudo no balanço financeiro do clube. Diante disso, estamos sem receber a receita. Ou seja, o Estado está devendo R$ 450 mil ao Nacional. A imprensa é chapa branca, é pró-governo. Está jogando essa situação para a torcida, porque o Governo está dando calote nos clubes da ParaÃba. Não tem como fazer futebol sem receber o que não nos foi repassado. A gente não está pedindo um favor, é um direito. Não há desvio, o que há é calote – atacou o presidente do Nacional de Partos.
Assim como Cleodon, Davi Leitão, do Esporte de Patos, seguiu no mesmo tom. O dirigente do Pato, time que está na 2ª divisão do Campeonato Paraibano, mas que também está envolvido no esquema de fraudes no antigo Gol de Placa, garantiu que não existe futebol no estado sem o incentivo público. Ele lamentou o fato de ter perdido a oportunidade de confeccionar os ingressos em vez de priorizar o programa governamental.
– Sem incentivo público, não há futebol na ParaÃba. Estamos vivenciado isso na prática mesmo na 1ª divisão. É preciso para que o futebol seja mantido. Na época, nós fizemos as trocas de ingressos de acordo com a legislação. A gente renunciou a própria receita que seria confeccionar os ingressos da forma natural, para cumprir com o Gol de Placa. Resultado: levamos calote do Governo do Estado, e ainda dizem que estamos em débito – declarou Davi.
Antes de Davi, o seu pai, Dário Leitão (foto) era quem presidia o Esporte de Patos durante a investigação do Ministério Público sobre o caso — Foto: Reprodução / TV ParaÃba |
Vale destacar que esse caso foi revelado em janeiro de 2019, quando a Operação Cartola, que foi uma investigação feita pelo Grupo de Atuação Especial Contra a Corrupção (Gaeco), do Ministério Público, desvendou esquemas de manipulação de resultados no futebol paraibano. Durante a investigação, foram descobertas fraudes no Programa Gol de Placa, do Governo do Estado.
A investigação foi feita com base nos benefÃcios concedidos a 18 clubes do futebol paraibano, que disputaram as edições da 1ª divisão do Campeonato Paraibano nos anos de 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018.
No perÃodo de investigação, Nacional e Esporte jogaram a 1ª divisão da ParaÃba, mas é preciso destacar que Cleodon e Davi não eram presidentes dessas equipes nas ocasiões. Antes de Cleodon, Alisson Nunes era o mandatário do Canário, enquanto Dário Leitão, pai de Davi, comandava o Pato.
Segundo foi divulgado pelo blog de Suetoni Souto Maior, do Jornal da ParaÃba, o Nacional de Patos possui uma dÃvida de R$ 223.800, enquanto o Esporte de Patos deve R$ 139.200.
Sobre o suposto calote citado por Cleodon Bezerra e Davi Leitão, é importante compreender o que acontece com dinheiro público após o fim do calendário anual. Com o encerramento de cada ano, o que está previsto no orçamento, se não foi aplicado, volta para a fonte pagadora. Ou seja, o dinheiro que os dirigentes dos clubes desejam referente ao ano de 2019 não existe mais, assim como o de 2020, se ninguém apresentar um projeto no ParaÃba Esporte Total até o próximo dia 31.
Também é importante frisar que o Governo do Estado não tem poder para solucionar esse impasse. É que a comissão responsável pelo acordo de leniência inclui a Controladoria Geral do Estado, a Procuradoria Geral do Estado e dois promotores do Ministério Público. Por isso, a pressão dos clubes para cima do Governo da ParaÃba não deve ter muito efeito.
Apesar disso, sete dos oito clubes da elite do futebol da ParaÃba, incluindo o Nacional de Patos, decidiram pelo cancelamento do Campeonato Paraibano 2021. Por conta disso, até o momento, a próxima temporada vai acontecer sem a disputa da 111ª edição do estadual.
Por Redação do GE
João Pessoa
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