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sábado, 16 de maio de 2020

Amantes do futebol veem em time amador da Paraíba a força para a luta contra a homofobia

Amantes do futebol veem em time amador da Paraíba a força para a luta contra a homofobia(Foto: Divulgação / Dandara FC)
Um time de futebol amador, em João Pessoa, capital paraibana, fez da diversidade uma possibilidade para que a pluralidade no esporte aconteça. E, dia a dia, contraria algumas regras trasvestidas de preconceito que foram enraizadas ao longo do tempo. Esse time é o Dandara Futebol Clube LGBTQ+, fundado há quase dois anos, com nome em homenagem à travesti Dandara, agredida e morta covardemente, em 2017, no Ceará. Uma equipe, uma homenagem e uma ideia, empenhados na busca pelo respeito à diversidade no meio esportivo. Na véspera do Dia Internacional Contra a Homofobia, eis um belo exemplo de acolhimento aos amantes do esporte que se veem escanteados apenas por conta da sua orientação sexual.
Os encontros às terças e quintas-feiras são abertos para quem estiver disponível a bater bola com as diferenças postas em quadra. Trata-se de uma comunidade que consegue viver esse clima de fraternidade que o esporte ainda engatinha para entender. Três pessoas desse grupo retratam bem a realidade de uma parte dos participantes do Dandara: Bárbara Mariz, Isadora Manuela e Gabriel Herculano vieram de outras cidades, estudam em instituições pessoenses e, em certo momento, foram convidados para um dia de treino. E ali se encontraram.
Registro de um dos primeiros treinos da equipe, ainda no ano de 2018 — Foto: Divulgação / Dandara FC"Amizades para toda a vida"
Bárbara tem 24 anos, é paulista, e precisou se mudar para João Pessoa em busca do seu mestrado em Química. Ela veio para a capital paraibana quando tinha 18 anos. Ela só descobriu melhor a sua orientação sexual com 22 anos, quando passou a morar sozinha.
Em meio à realidade intensa de estudos, existe também outras prioridades: os treinos do Dandara FC, duas vezes na semana, que se tornou parte fundamental de sua rotina na cidade.
Com "amizades feitas para toda a vida", como ela mesma define, Bárbara se descobriu no esporte através dos velhos e dos novos amigos feitos nos encontros semanais, dentro de quadra. E com o intermédio da bola, muitas vezes censurada à sua comunidade.
- O Dandara mostra que, apesar de não sermos aceitos muitas vezes em casa, na escola, na faculdade, no ambiente de trabalho, dentro dos espaços de religiosidade e espiritualidade, ou mesmo dentro de outras quadras, ali podemos dar pinta o quanto quisermos. Sermos nós mesmos. O esporte está ali para nos auxiliar - disse.
Bárbara posando, orgulhosa, com a camisa do time com o qual se identifica — Foto: Divulgação / Dandara FC
Há seis anos em solo paraibano, Bárbara considera o Dandara FC como um dos melhores proveitos que a vida em João Pessoa lhe ofereceu. Além de atuar pelo time feminino, ela estendeu ainda mais os seus laços com a equipe e também participa do conselho fiscal.
"Espaço de acolhimento, amor e diálogo"
Essa frase foi dita por Gabriel Herculano, único homem trans do Dandara FC. Pernambucano, da cidade de Jaboatão dos Guararapes, ele procurava um meio de se inserir no esporte, algo que tanto desejava. Além de encontrar um time, conseguiu ser ainda mais feliz por, de fato, se familiarizar e se sentir inserido.
Ativo nos treinos, jogos e torneios, Gabriel participa da equipe há um ano e meio e vê o meio esportivo, principalmente o futebol, como um ambiente agressivo, tóxico e machista.
- O meio do futebol e futsal é muito agressivo, muito tóxico e machista. Desde o jogo até os comentários. No Dandara FC, eu me sinto bem e acolhido - comentou.
Alguns integrantes do Dandara FC, ainda no começo, quando promoveram um bazar em uma das praças da capital paraibana — Foto: Divulgação / Dandara FC
Gabriel é adepto da desconstrução como parte da formação social. Com 22 anos, deu início à sua transição há quatro anos, quando tinha 18. Estudante de pedagogia, ele, como muitos outros transexuais, precisa didatizar muito bem as suas ações diante de uma sociedade preconceituosa. Não é nada fácil viver para convencer quem lhe põe à prova gratuitamente.
No entanto, um lugar especial reserva bons sentimentos que lhe fazem deixar essa parte ruim da realidade um pouco de lado.
- O Dandara FC é um espaço de acolhimento, de amor e de diálogo. O que a gente mais preza é isto: é saber quem você é, se sentir pertencente e incluso. Saber que você não vai ser julgado. Saber que tem pessoas que vão se identificar com o seu jeito - disse.
"Foi paixão a primeiro treino"
Isadora Manuela é "apaixonada por jogar bola". A paixão é quase toda entregue ao futebol feminino, que lhe inspirou o suficiente para arrumar alguns atritos, no tempo de escola, por querer jogar com os meninos.
De tanto insistir, conseguiu movimentar as meninas do seu colégio para montar times que também pudessem atuar. Por que não? Foram duas as equipes que a recifense, hoje com 20 anos, conseguiu mobilizar. Muito determinada a seguir dando os seus passos com a bola no pé, tentou entrar no selecionado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde foi estudar, mas não conseguiu.
Isadora, de colete lilás, faz o sinal de "joinha" para a foto após o treino — Foto: Divulgação / Dandara FC
O Dandara FC entrou em sua vida de forma frenética. Jogar futebol, lutar pela causa do movimento LGBTQ+ e compartilhar sua vida com as pessoas fez com que parte da sua juventude fosse escrita também por essa causa.
- Tenho muito orgulho que faço parte do Dandara. Foi paixão a primeiro treino. Tem tanta diversidade, que pensei comigo mesma: me encontrei. Falamos sobre diversos assuntos, expondo as nossas lutas contra racismo, gordofobia, transfobia, homofobia. Melhorou o meu condicionamento físico e mental - garantiu.
O "lá vem a sapatão" ou o "precisa de um homem na vida para se ajeitar" se tornou vento passageiro. Isadora confessou, ao longo da entrevista, que, com a diversidade existente dentro do Dandara FC, se tornou ainda mais capaz de escutar realidades diferentes da sua. Usou do filtro que constrói em prol de quem precisa dos seus ouvidos atentos. Fica aqui a sugestão da atleta.
Time feminino faz a festa após a conquista do primeiro título da equipe, em 2019 — Foto: Divulgação / Dandara FC
Apesar do pouco tempo de existência, o Dandara FC conta com 25 atletas, ao todo. O time é de futebol, mas as diversas modalidades que a bola no chão oferecem fazem com que a equipe improvise, se necessário. Um exemplo nítido é visto nos treinamentos, que acontecem em uma quadra de futsal. O único título, inclusive, foi conquistado no ano passado, com a categoria feminina, na disputa de um torneio de futebol de 7.
E assim segue o Dandara FC: levantando a bandeira da diversidade, acolhendo os amantes do futebol que se identificam com as mais variadas orientações sexuais e dando exemplo de como se articulam as melhores jogadas dentro de quadra, dentro de campo... na vida.
*Estagiário sob a supervisão de Cadu Vieira.

Por Vitor Oliveira* 
João Pessoa

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