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sábado, 11 de março de 2017

Causos & Lendas do Nosso Futebol: "Parece que foi Ontem"

Todos nós acordamos, naquele domingo, diferentes, pois enfim a data tinha chegado, era o dia nove de março de 1975, inauguração do Estádio José Américo de Almeida, o “Almeidão”. E para abrilhantar a inauguração da nossa maior praça de esporte, fora convidado o Botafogo de Futebol e Regatas, do Rio de Janeiro, para enfrentar o nosso Botafogo-PB.
Eu era adolescente, acostumado com o campinho da Graça, em Cruz das Armas, e o Olímpico do Boi Só, no Bairro dos Estados, nossos palcos esportivos até então. Naquela época, eu não havia frequentado os campos de futebol dos outros estados. Sentar no último batente da arquibancada do “Boi Só” já era uma coisa fantástica, em termos de altura e visão.
Mas o “Almeidão” seria outra coisa, não seria chamado de campo, e sim de estádio. Era o que nos faltava para podermos, como Recife, participar das competições nacionais patrocinadas pela antiga CBD, hoje CBF. Saímos de nossa casa, logo cedo, pois toda a cidade pretendia assistir àquela inauguração. Fui acompanhado dos meus irmãos Sebastião, Reynaldo e Giovanni, este último foi um dos maiores torcedores do Belo que eu tenho notícia. Deus já o chamou de volta ao paraíso.
Retornado ao jogo de inauguração, o estádio estava cheio, mesmo ainda não tendo sido totalmente concluído, o Governador Ernani Sátiro, contente e sorridente. Banda de música e muita euforia. O espaço aonde hoje funciona, as cadeiras, cativas e numeradas, estava interditado e com várias escoras metálicas, as quais iam até a coberta. No fosso que circunda e separa o campo de jogo da torcida, havia  materiais de construção.
A gente não parava de olhar para aquele gigante de concreto. Era uma alegria só, uma satisfação compartilhada por várias gerações de paraibanos, enfim o nosso futebol passaria a ser profissionalizado e estruturado. Várias cenas marcaram a minha retina e mente, naquele inesquecível domingo. Iniciarei pela cena triste, que foi quando soltaram uma bomba enorme, no fosso, ao mesmo tempo em que, alguém gritou que o estádio estava caindo, gerando tumulto e levando os torcedores da arquibancada sol a correrem em direção da grade que a separa do fosso, havendo várias pessoas feridas, algumas chegando a pular no fosso. Depois tomei conhecimento, que um deputado de nome Ruy Gouveia, de esquerda, havia dado entrevistas, na semana que antecedeu a inauguração, falando que a obra iria cair.
Da arquibancada sombra, eu vi aquela correria, estrondos e gritos na arquibancada sol. Por impulso, comecei a me preparar para correr, quando meus irmãos me seguraram e evitaram que eu cometesse a mesma impensada decisão dos torcedores da arquibancada geral. Fiquei parado, como muitos, aflito, atônito, imóvel. As rádios e as autoridades de imediato pediram calma a todos, mostraram que tudo tinha sido um grande e criminoso equivoco.
Bem, passado o susto, se é que realmente passou, o Botafogo carioca ganhou a partida por dois tentos a zero, sendo o primeiro gol do jogo e do estádio de autoria de "Tiquinho", marcado em poucos segundos de jogo. Agora, muito me chamou  a atenção naquele dia, foi quando os times adentraram ao gramado,  a torcida eufórica passou a aplaudir os jogadores, ocorreu que naquele momento, o nosso governador estava dentro do campo, e por poucos minutos acreditou que aquelas palmas eram para a sua pessoa, o que levou ele a se virar para a arquibancada e agradecer acenando com as duas mãos e um sorriso enorme. (Dizem que ele não entendia nada de futebol, mas foi um grande governador).
Também me chamou a atenção, naquele dia, o lateral direito do Botafogo da Paraíba, que era um estrangeiro, salvo engano do Paraguai, chamado de Molinas, totalmente fora de forma e que era driblado com a maior facilidade do mundo, deixando um enorme corredor em suas costas. Agora, o que muitos recordam e eu nunca vou esquecer, foi a bomba (chute) de fora da área,  dado por Benício, o “Pé de Limão”, que bateu nos peitos do grande goleiro Wendell, e retornou para frente, dando um grande susto no goleiro carioca. Tive o prazer de conversar com Benício, quarenta anos depois, e juntos, lembrarmos daquele chute. Wendell, quando entrevistado, culpou o forte sol daquela tarde, que o impediu a visão do chute.
Finalmente, naquela época, nós não tínhamos nenhum canal de televisão na cidade, e veio uma equipe especial da Globo Recife, para fazer a cobertura. Ao final do programa Fantástico, passava a famosa zebrinha apresentando o resultado dos treze pontos da loteria e os gols da rodada. E em caráter especial, mostraram a inauguração do estádio dando ênfase ao tumulto da arquibancada. Eu e três amigos, assistimos aquele programa justamente na casa de Seu Marcos, um senhor aposentado da REFESA, que tinha ido ao jogo e que na correria caiu e perdeu os seus óculos. Quando as imagens começaram a ser reproduzidas na TV, em preto e branco e sem muita nitidez,  nosso amigo, Joca Macaco, em tom de gozação, disse: Seu Marcos, olha os óculos do senhor ali, no meio da torcida! Aos gritos de moleques,  fomos postos pra fora de casa e nunca mais fomos convidados para entrar na casa daquele gentil senhor.
Parece que foi ontem!

Francisco Di Lorenzo Serpa
Membro da API, UBE e APP
falserpa@oi.com.br

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